Não existem projetos em que a forma de comunicação não seja importante ou mesmo decisiva para se alcançar um resultado satisfatório. Este estudo tem por objetivo conhecer o processo de comunicação de uma organização não-governamental, que trabalha com projetos ligados ao meio ambiente com ênfase na educação ambiental. A Ong pesquisada, o Projeto Araras, localizada no bairro de Araras, (distrito de Cascatinha, Petrópolis, região serrana do Estado do Rio de Janeiro), possui vários projetos ligados à educação ambiental.Para facilitar a compreensão do tema, foi escolhido como objeto de estudo o projeto da ONG que teve maior repercussão na comunidade, o Projeto Araras Sem Lixo.A partir de observações, entrevistas informais e documentos da instituição, foi possível conhecer quais os meios utilizados, de que forma, quais as dificuldades encontradas pelos profissionais envolvidos e o porquê destas dificuldades.Tentou-se identificar se os meios utilizados pela ONG serviram para informar, comunicar e educar.Verificou-se que a ong consegue, através de alguns determinados meios de comunicação, informar a comunidade e alguns setores do bairro, como as escolas, que participam efetivamente das atividades do projeto.
INTRODUÇÃO
Numa sociedade em que a comunicação de massa exerce um poder inquestionável e portanto é responsável pela transmissão e fixação de muitos conceitos, saber de que forma os meios de comunicação social influenciam na divulgação e execução de projetos de educação ambiental, realizados por uma Organização Não-Governamental, é um tema que deve ser estudado pois o conceito de EA ainda não foi compreendido pela maior parte da população. A EA apresenta
“uma nova dimensão a ser incorporada ao processo educacional, trazendo toda uma recente discussão sobre as questões ambientais,e as conseqüentes transformações de conhecimento, valores e atitudes diante de uma nova realidade a ser construída” (GUIMARÃES, 1995,p.9).
Para compreendermos Comunicação Social e Educação Ambiental é necessário termos uma definição do que são os meios de comunicação e meio ambiente. Os meios de comunicação podem ser analisados como extensões do homem e classificados como meios quentes e meios frios. “O quente é aquele que prolonga um único de nossos sentidos e em alta definição. Por exemplo, uma fotografia, o rádio… já o meio frio seria caracterizado pela baixa definição, como um desenho ou o telefone” (MCLUHAN, 1964,p.38).
O meio ambiente pode ser considerado o
“um lugar determinado e/ou percebido onde estão em relações dinâmicas e em constante interação os aspectos naturais e sociais.Essas relações acarretam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e políticos de transformação da natureza e da sociedade” (REIGOTA, 2001,p.21).
Um processo de comunicação realizado de forma eficaz contribui para o sucesso de qualquer empreendimento ou atividade. Por isso, analisar de que forma a comunicação poderá contribuir para que as ações em EA sejam efetivadas com sucesso, torna-se uma necessidade. Partindo do raciocínio de que uma ONG ou mesmo uma escola tem uma estrutura de empresa, pode-se pensar no processo de comunicação da mesma forma. Ou seja, a comunicação deve “proporcionar segurança, continuidade e criatividade através da compreensão mútua da coletividade, entre emissor e receptor, sejam esses quem forem e em que momento ocuparem cada uma dessas posições” (LIMA,1985,p.27).Portanto, o trabalho de divulgação, de assessoria de imprensa poderia ser executado com os mesmos critérios,ou seja, o Assessor de Imprensa seria “o responsável por múltiplas atividades e desempenha papel estratégico na política de comunicação dos assessorados” (FENAJ, 1998,p.12). Mas, deve-se destacar que não basta usar todas as técnicas e meios de comunicação disponíveis, é preciso “levar em conta sua ética, sua operacionalidade, o benefício para todas as pessoas em todos os setores profissionais” (LIMA, 1985,p.5).
METODOLOGIA
Para a realização desta monografia o primeiro passo foi uma pesquisa bibliográfica sobre Comunicação Social e Educação Ambiental. Após esta pesquisa foram escolhidos quais os autores que seriam utilizados como referência teórica. Em seguida, foi realizada uma pesquisa nos jornais locais e assim foi escolhida a instituição que seria o objeto de estudo de caso, a Organização Não Governamental Projeto Araras. Através de uma pesquisa de campo, onde foram coletados no local, os dados sobre a instituição escolhida, foi feito um estágio de observação, participativa, onde se pode acompanhar, entre os meses de fevereiro e junho de 2003, o processo de comunicação do projeto Araras Sem Lixo. Com o objetivo de conhecer o perfil dos integrantes da ong, foram entregues formulários com as seguintes perguntas:Qual seu objetivo ao participar de uma ONG?; O que é Meio Ambiente; O que é Educação Ambiental? O que é desenvolvimento sustentável? Quais os meios de comunicação utilizados para divulgar os projetos da ONG?;e De que forma a Comunicação Social pode auxiliar nos projetos desenvolvidos pela ONG? De dez formulários deixados no Projeto Araras, dois foram respondidos.
Durante o estágio teve-se a oportunidade de observar as reuniões do Araras Sem Lixo que definiram as metas do projeto. As reuniões foram mais úteis para se conhecer o perfil dos participantes do que os formulários.Também foram realizadas entrevistas informais, análise de documentos e o local de estágio foi fotografado.
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL “NO ARARAS SEM LIXO”
A Organização Não-Governamental Projeto Araras, fundada em janeiro de 2001, está localizada no Bairro de Araras, no Distrito de Cascatinha, em Petrópolis, região serrana do Estado do Rio de Janeiro.Bastante procurado por turistas, tem 8.000 habitantes em 15 quilômetros de extensão, 2500 residências, 13 condomínios, 14 restaurantes, 8 pousadas, 5 áreas de ocupação desordenada, 1, creche, 1 shopping, 5 escolas, 4 públicas e 1 particular, sendo esta a única com ensino médio.
A Ong tem por objetivo melhorar a qualidade de vida, preservar e recuperar o meio ambiente em Araras,através da participação e envolvimento da comunidade. Fazem parte do Conselho, representantes das sete localidades de Araras (Poço dos Peixes, Cruzeiro, Mombaça, Perobas, Vale de Santa Luzia, Vista Alegre e Malta) e também do bairro – Vale das Videiras. Até maio de 2003 contava com 596 cadastrados. Destes, 20 são voluntários efetivos, ou seja, participam com mais freqüência dos projetos, e 109 contribuem financeiramente. Até junho de 2003, estavam elaborados os seguintes programas: Meio Ambiente (com os projetos Araras Sem Lixo, Água e Corredor de Vida Silvestre); Educação (subdividido em Memória e Espaço Cultural);Infra-estrutura e Segurança. Estão em funcionamento o Araras Sem Lixo e o Espaço Cultural, que oferece cursos para comunidade local. Para o desenvolvimento destes projetos, antes da fundação oficial, os participantes da ong fizeram um levantamento para saber quais as principais necessidades do bairro.
O Projeto Araras Sem Lixo é o que obteve maior repercussão local e que possui maior divulgação em veículos de comunicação com alcance estadual e nacional. Este projeto foi também o primeiro da ONG, e começou antes mesmo da organização existir oficialmente. Problemas relacionados ao lixo são comuns em Araras. Além da poluição dos rios, casos de leptospirose ocorreram no bairro, e as queimadas nas matas, provocadas pela queima de forma inadequada do lixo verde, são freqüentes. A coleta de lixo antes não era regular, mas o Araras Sem Lixo conseguiu que fosse normalizada, em alguns logradouros. Em Petrópolis a coleta de lixo e a limpeza urbana e rural são de responsabilidade da COMDEP (Companhia Municipal de Desenvolvimento de Petrópolis), uma empresa de economia mista (pública/privada).
Os objetivos do Araras Sem Lixo, conforme informações obtidas no site www.projetoararas.org.br, são: Conscientizar a população de moradores, veranistas e visitantes através de educação nas escolas e campanhas. Tendo como meta a melhoria da qualidade de vida e preservação da beleza e saúde local; Parceria da comunidade com os órgãos competentes ;Implantação da coleta seletiva e galpão de reciclagem. Os participantes da ONG têm uma visão holística de meio ambiente, ou seja “de que o ser humano é natureza e não parte dela” (GUIMARÃES, 1993,p.30), embora sejam pessoas com formação educacional das mais diversas. Participam artesãos, advogados, médicos, comerciantes, professoras, entre outros. Nota-se também que os participantes sabem como deve ser o processo de comunicação, sabem com quem devem falar na imprensa local, utilizam a internet para divulgação, mas dois problemas foram detectados: a falta de verba para um projeto de comunicação próprio e a falta de voluntários para fazer este tipo de serviço.
A ONG tem duas funcionárias para todas as tarefas administrativas e nem sempre elas têm tempo de fazer uma divulgação. Elas elaboram os informativos trimestrais, que são enviados por e-mail para todos os cadastrados. O site – www.projetoararas.org.br é atualizado por uma das secretárias, mas foi desenvolvido por um voluntário que depois não completou o serviço. Observa-se que o veículo mais utilizado é a internet, tanto para a comunicação com o público interno quanto com o externo. Embora não seja elaborado por especialistas, pode-se reconhecer a função jornalística da comunicação de massa, nos informativos e no site, que é realizada “através da captação, interpretação e difusão de informações e opiniões sobre fatos, idéias e situações atuais, de interesse e importância para a segurança e orientação de cada indivíduo e da sociedade como tal.” (BELTRÃO, 1986,p.142).
Através do site é possível claramente perceber que a ONG concorda com os conceitos de desenvolvimento sustentável e de educação ambiental atuais, ao deixar claro que quer o envolvimento de todos na questão e procura “levantar os principais problemas da comunidade….os conhecimentos necessários e as possibilidades concretas para a solução deles” (REIGOTA, 1994,p.27). A Carta da Terra é um dos destaques da homepage, o que reforça a idéia de que a ONG tem compromisso com as discussões ambientais mais recentes. A comunicação direta através do uso do telefone, da mala direta e do “boca a boca” também faz parte da estratégia de divulgação, pois nem todos os cadastrados têm acesso à internet. Quando conseguem patrocínio, fazem também cartazes e folders. As camisetas com ilustrações do cartunista Miguel Paiva, além de ser uma forma de conseguir recursos financeiros, também servem de divulgação pois têm o logotipo do Araras Sem Lixo e os coordenadores sempre que vão a algum evento usam a camiseta como forma de propaganda.
O Festival da Limpeza, principal atividade do Araras Sem Lixo, em 2003 terá a quarta edição. No início era chamado de DIA DA FAXINA, mas em 2002, como durou quase um mês, se transformou num festival onde outras atividades paralelas, para alertar sobre o problema do lixo, foram realizadas no bairro. Porém, o que mais chama a atenção é a faxina ou limpeza feita nos rios por moradores, veranistas, turistas e até mesmo residentes de outros bairros. De acordo com os resultados obtidos até agora, pode-se acreditar que a divulgação está surtindo efeito. Na 1ª campanha foram retiradas 177 toneladas de lixo, na 2ª 143 toneladas e na 3ª 59 toneladas. O fato da quantidade de lixo retirada ter diminuído é considerado um resultado positivo, pois pode significar que menos lixo foi jogado no rio durante o ano, ou seja, a comunidade estaria se sensibilizando e os conceitos de educação ambiental estariam se tornando parte do cotidiano. Embora isto não possa ser comprovado com absoluta certeza, porque não se contabilizou exatamente quantas pessoas participaram da limpeza. O Projeto Araras pelo DIA DA FAXINA recebeu, em 2002, o diploma Your Community Our Earth em reconhecimento a todas as comunidades e organizações do mundo inteiro que participam do Programa Clean UP The World. Uma parceria entre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e a ONG, australiana, Clean Up The World para limpar o mundo.
Os coordenadores do projeto acreditam que ainda há muito o quê fazer nesta área e que a comunicação ainda não é feita de modo que atinja a toda comunidade. Porém, ao observar como este projeto é realizado, nota-se que já estão mais organizados na hora de pensar no processo de comunicação. Para reunir todos os cadastrados neste projeto (até o final de maio eram 36), as secretárias enviam primeiro um e-mail e depois confirmam por telefone se as pessoas comparecerão à reunião programada.
Na primeira reunião observada (30/03/03), apenas 8 pessoas compareceram. O objetivo era definir as metas de 2003, entre elas, o Festival da Limpeza. Durante este encontro algumas pessoas comentaram sobre a dificuldade para divulgação e foi nesta reunião que aceitaram o convite para uma palestra na UCP (Universidade Católica de Petrópolis) o que foi apontado como uma oportunidade de divulgar, não só o Araras Sem Lixo, mas também o Projeto Araras.
Pode-se constatar também que os participantes têm uma grande preocupação com a questão da Educação Ambiental. Embora o evento principal, o Festival da Limpeza, fosse o de mais destaque naquele dia, a questão da EA como uma mudança de comportamento foi comentada várias vezes, pois acreditam que é necessário um trabalho durante todo o ano, principalmente com as escolas, para que haja uma redução do lixo. Por isso, neste dia um assunto que deixou os participantes satisfeitos foi o de que a Comdep instalou as sete placas com frases de conscientização, pedidas há quatro anos. (Uma das frases era o acróstico “Ar Puro – Rios Limpos -A natureza agradece –Respeite-Araras – Sem Lixo!”) Alguns comentaram sobre a dificuldade da leitura, pois achavam que havia muita informação. Isto mostrou preocupação com a forma de transmitir a mensagem, ou seja, uma preocupação com o feedback, que em comunicação significa, “uma resposta a uma mensagem” (DIMBLEBY&BURTON, 1990,p.214) que neste caso era o entendimento dos conceitos de preservação ambiental. Mas, a questão das placas mostra que o PA ainda terá muito trabalho para sensibilizar a comunidade, pois até o final desta pesquisa, só uma placa sobreviveu aos vândalos, as outras foram arrancadas.
Outro assunto colocado em pauta na primeira reunião foi o patrocínio de uma história em quadrinhos elaborada pelo cartunista Miguel Paiva, há dois anos, que não cobrou pelo trabalho, pois ele também é cadastrado no projeto, mas há necessidade de patrocínio para ser publicado. Esta HQ, que conta a história de Ararinho e Vô Pedro, será distribuída nas escolas e no comércio local e tem por objetivo atingir toda a comunidade através de um texto leve e divertido, alertando para a necessidade de preservação de Araras e dos problemas gerados pelo lixo jogado no bairro pela geração atual e as conseqüências para a geração futura. Durante o encontro uma das coordenadoras lembrou que a EA faz parte dos PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais), mas que nas escolas de Araras isto não está ocorrendo. Por isso, as escolas locais são o lugar ideal para o PA desenvolver projetos de educação ambiental.
Uma das grandes preocupações do “grupo do lixo” , como alguns voluntários denominam o projeto, é com o incentivo à reciclagem. Em Araras apenas um coletor recolhe todo o lixo reciclável (cerca de 12 toneladas) porém, o trabalho de reciclagem está parado, porque não há um local em Araras apropriado para isto. Pelos assuntos discutidos, observou-se que as pessoas envolvidas têm uma noção de que natureza e ser humano não podem se separar. Talvez algumas nem tenham percebido isso, mas foi comum ouvir expressões como “não podemos fazer uma campanha, sem pensarmos nos problemas dos moradores em relação ao lixo, não é só manter a beleza do local, precisamos pensar nas pessoas, e nas conseqüências do lixo…etc”. O que lembra as recomendações da Conferência de Tbilisi, como “ajudar os alunos a descobrirem os sintomas e as causas reais dos problemas ambientais” (GUIMARÃES,1995,p.21) e “ressaltar a complexidade dos problemas ambientais e, em conseqüência,a necessidade de se desenvolver o sentido crítico e as atitudes necessárias para resolvê-los” (Idem).Nesta reunião foi sugerido fazer o festival em setembro, para coincidir com a clean-up the world, ong australiana que mantém contatos com o Projeto Araras e que promove o dia Mundial da Limpeza.
De acordo com as coordenadoras do Araras Sem Lixo, depois de três festivais, este ano, o rio não encheu por causa do lixo. Em 2003 quando ocorreram as chuvas de janeiro o rio de Araras não transbordou como acontecia anteriormente. Já o Rio Piabanha, no Centro de Petrópolis,encheu rapidamente. Em 2001 os efeitos positivos desta atividade também foram percebidos, conforme noticiado no Jornal do Brasil.
Na segunda reunião (06/05/03),com representantes das escolas, foram decididas as principais atividades e estratégias para o Festival da limpeza marcado para o período de 19 de setembro a 31 de outubro, sendo que o DIA DA FAXINA será em 20 de setembro, para coincidir com a campanha da ONG Clean-Up-The-World. Durante a reunião ficou claro que o objetivo das coordenadoras não é simplesmente limpar o rio, mas sim fazer com que o lixo não seja jogado no rio, ou seja, fazer com que a EA seja utilizada para “despertar o indivíduo a participar ativamente na solução de problemas ambientais do seu cotidiano” (PEDRINI, 2002,p.28). Esta discussão surgiu porque uma professora achou que setembro ficaria muito longe da época das chuvas e quando chovesse o rio estaria cheio de novo. Nota-se aí uma dificuldade de conscientizar a comunidade “de mudar os comportamentos individuais e sociais” (REIGOTA, 1994,p.30).
Para 2003, com o objetivo de fazer uma interação entre as escolas, ficou sob responsabilidade das professoras a apresentação de palestras dos alunos maiores para os menores, sendo que cada escola fará as apresentações nas outras escolas. Os próprios alunos farão a pesquisa, obviamente, com o tema lixo, enfocando o ambiente e o ser humano.
No segundo encontro foi decidido o quê se poderia chamar de ações de comunicação para o Festival da Limpeza. Se conseguirem patrocínio, utilizarão os seguintes meios: Faixas ou banners, para serem colocados em todo o bairro; spots, gravados por algum artista que tenha casa em Araras, para serem veiculados em carros de som pelo bairro;cartazes e folhetos com distribuição nos condomínios; a história em quadrinhos de Miguel Paiva. Algumas professoras ficaram preocupadas com as faixas e o carro de som, para que não ocorra poluição visual ou sonora, e a propaganda acabe trazendo transtornos. Por isso, concordaram em que assim que terminar o festival, o PA retirará todas as placas. Quanto ao som, esta seria a única maneira de atingir as localidades mais distantes. A divulgação na imprensa também foi citada, embora não como prioridade. Através dos meios escolhidos percebe-se que realmente querem atingir a comunidade, pois selecionaram meios específicos para atingir os moradores. No Festival da Limpeza algumas atividades que deram certo ano passado serão repetidas,como as palestras sobre ecologia, realizadas por um grupo de universitários e o Teatro da Fundação de Cultura (Mama to na Lona).
O Projeto Araras mantém um clipping atualizado, onde estão todos os recortes das notícias relacionadas ao Projeto Araras e ao bairro. De 50 matérias (entre notas de colunistas e reportagens) analisadas, 24 eram sobre o Araras Sem Lixo, sobre o programa Educação, e as outras sobre o distrito ecológico e problemas com antenas celulares. Normalmente estes contatos com a imprensa são feitos por telefone ou e-mail. Muitas vezes a iniciativa é da própria imprensa. Os textos destas matérias são dos jornalistas do veículo, não foram retirados de releases “texto informativo distribuído à imprensa por uma instituição privada, governamental, etc, para ser divulgado gratuitamente, entre as notícias publicadas pelo veículo” (RABAÇA&BARBOSA, Citado por LIMA,p.17), pois o Projeto Araras utiliza pouco este recurso, muito comum em assessorias de imprensa para “levar à redação notícia que possa servir de apoio” (FENAJ, 1994,p.25). Apenas na semana do Festival do Lixo, em 2002, foi enviada a programação, que um jornal local, publicou na íntegra .Através destas matérias constata-se que a imprensa local apóia e simpatiza com a causa da ONG.
Mesmo não tendo um processo de comunicação contínuo, o Araras Sem Lixo está conseguindo fazer com que as questões ambientais sejam discutidas. Já se tornou exemplo de desenvolvimento sustentável no artigo que está no Livro Desenvolvimento Sustentável em Petrópolis, da Viana&Mosley Editor. Ainda não conseguiu envolver todo o bairro, pois há muitos interesses diferentes na região e o problema ambiental, nem sempre é encarado como prioridade por alguns.Os condomínios, por exemplo, também participam, alguns já tem coletiva seletiva, composteira para o lixo verde e os proprietários estão atentos a desmatamentos. A dificuldade de acesso aos meios de comunicação por parte dos moradores dificulta as ações. A direção do PA está tentando fazer uma rádio comunitária, pois considera este veículo de fácil acesso aos moradores.
No final da pesquisa o método que o Projeto Araras estava utilizando para divulgar seus projetos, era participar dos eventos sobre meio ambiente que estavam acontecendo na cidade. Nesses eventos, sempre que tinha oportunidade, além de dar um cartão de visitas, a representante explicava sobre os trabalhos desenvolvidos pela ONG. Em um deles, fez uma interpelação em uma palestra, quando um professor deu a idéia de se fazer um dia da limpeza em Petrópolis, como se isso jamais tivesse acontecido em qualquer lugar do mundo. A representante aproveitou para explicar sobre o Festival da Limpeza e destacou que um dos problemas era, justamente, a divulgação.
CONCLUSÃO
O Processo de comunicação utilizado pelo Araras Sem Lixo, principalmente para a divulgação do Festival da Limpeza, se for feito como planejado, conseguirá alcançar os resultados pretendidos, pois a ONG está utilizando diversos meios, direcionados à comunidade que quer atingir. Deve-se levar em conta que o festival já está se tornando uma característica do local e que nos anos anteriores foi o projeto que deu a ONG esta imagem de credibilidade. Isto pode ser comprovado, na prática, pela quantidade de lixo recolhido, pelo número de pessoas da comunidade e de outros locais que se envolveram e pela repercussão obtida na mídia. Não há como garantir que em 2003 o sucesso será o mesmo, pois toda a estratégia de comunicação planejada para este ano, depende de patrocínio. Pelo que foi feito até agora, pode-se afirmar que o projeto já conseguiu envolver alguns grupos, por exemplo, as professoras, embora isto não signifique que toda a comunidade escolar participará, pois dependerá da forma como estas professoras farão a comunicação nas escolas. Para termos certeza de que o processo de comunicação utilizado pelo Araras Sem Lixo foi correto e que os meios de comunicação escolhidos influenciarão no resultado final, será necessário acompanhar os próximos passos e conferir o Festival da Limpeza, que serve como uma espécie de termômetro do PA, para saber se estão conseguindo passar, através dos meios de comunicação, alguma noção de EA. Ao conferir os resultados dos anos de 2001 e 2002, percebe-se que isto ocorreu de uma forma ainda tímida, mas significante, pois a comunidade já se preocupa com as questões ambientais. Mas o trabalho de educação ambiental não acontece de um dia para o outro, é uma tarefa que deve ser contínua e aqueles que se dispõem a fazê-la precisam ser persistentes.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BELTRÃO, Luiz; QUIRINIO, Newton de Oliveira. Subsídios para uma Teoria da Comunicação de Massa. São Paulo, Summus, 1986
BORDENAVE, Juan E. Diaz. O que é Comunicação. São Paulo, Brasiliense, 1984.
_____. Além dos Meios e Mensagens. Petrópolis – RJ, Vozes, 8ª edição, 1998.
DIMBLEBY, Richard & Burton, GRAEME. Mais do que Palavras – Uma Introdução à Teoria da Comunicação. São Paulo, Summus Editorial, 2ª edição, 1990.
FENAJ, Federação Nacional de Assessoria de Imprensa, Manual Nacional de Assessoria de Imprensa, Rio de Janeiro, edição da Comissão Nacional dos Jornalistas em Assessoria de Imprensa da FENAJ, 1994.
GUIMARÃES, Mauro. A Dimensão Ambiental na Educação, São Paulo, Papirus, 1995.
LIMA, Gerson Moreira, Releasemania – Uma Contribuição para o Estudo do Press -release no Brasil – São Paulo,Summus Editorial, 1985.
MARTINS, Eduardo. Manual de Redação e Estilo . São Paulo, Editora Moderna, 1997.
MCLUHAN, Marshall; FIORE, Quentin. Os Meios de Comunicação (como extensões do homem).Tradução de Décio Pignatari, São Paulo, Cultrix, 1964.
PEDRINI, Alexandre de Gusmão. Educação Ambiental, Reflexões e Práticas Contemporâneas. Petrópolis-RJ, Vozes, 1997.
REIGOTA, Marcos. O Que é Educação Ambiental. São Paulo, Brasiliense, 1994.
_____.Meio Ambiente e Representação Social. São Paulo, Cortez, 2002.
AGRADECIMENTOS
Aos professores Dr.Alexandre Pedrini e Ms.Maria Esther Araújo, pela orientação, e a todos os participantes da ONG Projeto Araras, em especial à Presidente Beatriz S.L de Miranda, às secretárias Geiziane Vantini e Cibele Izidoro e às coordenadoras do Araras Sem Lixo Maria Isabel Nahon e Cecília Alvim.
Autora:
Teresinha de Jesus Fidelles de Almeida
Rua Zélia Rettmayer, nº 82 – Centro – Petrópolis – RJ – CEP: 25680-060
Instituição: Universidade Candido Mendes – Projeto A Vez do Mestre
Anais do VII Encontro de Educação Ambiental do Estado do Rio de Janeiro
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 23-25 de setembro de 2004
p. 445 – 456
INTRODUÇÃO
Numa sociedade em que a comunicação de massa exerce um poder inquestionável e portanto é responsável pela transmissão e fixação de muitos conceitos, saber de que forma os meios de comunicação social influenciam na divulgação e execução de projetos de educação ambiental, realizados por uma Organização Não-Governamental, é um tema que deve ser estudado pois o conceito de EA ainda não foi compreendido pela maior parte da população. A EA apresenta
“uma nova dimensão a ser incorporada ao processo educacional, trazendo toda uma recente discussão sobre as questões ambientais,e as conseqüentes transformações de conhecimento, valores e atitudes diante de uma nova realidade a ser construída” (GUIMARÃES, 1995,p.9).
Para compreendermos Comunicação Social e Educação Ambiental é necessário termos uma definição do que são os meios de comunicação e meio ambiente. Os meios de comunicação podem ser analisados como extensões do homem e classificados como meios quentes e meios frios. “O quente é aquele que prolonga um único de nossos sentidos e em alta definição. Por exemplo, uma fotografia, o rádio… já o meio frio seria caracterizado pela baixa definição, como um desenho ou o telefone” (MCLUHAN, 1964,p.38).
O meio ambiente pode ser considerado o
“um lugar determinado e/ou percebido onde estão em relações dinâmicas e em constante interação os aspectos naturais e sociais.Essas relações acarretam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e políticos de transformação da natureza e da sociedade” (REIGOTA, 2001,p.21).
Um processo de comunicação realizado de forma eficaz contribui para o sucesso de qualquer empreendimento ou atividade. Por isso, analisar de que forma a comunicação poderá contribuir para que as ações em EA sejam efetivadas com sucesso, torna-se uma necessidade. Partindo do raciocínio de que uma ONG ou mesmo uma escola tem uma estrutura de empresa, pode-se pensar no processo de comunicação da mesma forma. Ou seja, a comunicação deve “proporcionar segurança, continuidade e criatividade através da compreensão mútua da coletividade, entre emissor e receptor, sejam esses quem forem e em que momento ocuparem cada uma dessas posições” (LIMA,1985,p.27).Portanto, o trabalho de divulgação, de assessoria de imprensa poderia ser executado com os mesmos critérios,ou seja, o Assessor de Imprensa seria “o responsável por múltiplas atividades e desempenha papel estratégico na política de comunicação dos assessorados” (FENAJ, 1998,p.12). Mas, deve-se destacar que não basta usar todas as técnicas e meios de comunicação disponíveis, é preciso “levar em conta sua ética, sua operacionalidade, o benefício para todas as pessoas em todos os setores profissionais” (LIMA, 1985,p.5).
METODOLOGIA
Para a realização desta monografia o primeiro passo foi uma pesquisa bibliográfica sobre Comunicação Social e Educação Ambiental. Após esta pesquisa foram escolhidos quais os autores que seriam utilizados como referência teórica. Em seguida, foi realizada uma pesquisa nos jornais locais e assim foi escolhida a instituição que seria o objeto de estudo de caso, a Organização Não Governamental Projeto Araras. Através de uma pesquisa de campo, onde foram coletados no local, os dados sobre a instituição escolhida, foi feito um estágio de observação, participativa, onde se pode acompanhar, entre os meses de fevereiro e junho de 2003, o processo de comunicação do projeto Araras Sem Lixo. Com o objetivo de conhecer o perfil dos integrantes da ong, foram entregues formulários com as seguintes perguntas:Qual seu objetivo ao participar de uma ONG?; O que é Meio Ambiente; O que é Educação Ambiental? O que é desenvolvimento sustentável? Quais os meios de comunicação utilizados para divulgar os projetos da ONG?;e De que forma a Comunicação Social pode auxiliar nos projetos desenvolvidos pela ONG? De dez formulários deixados no Projeto Araras, dois foram respondidos.
Durante o estágio teve-se a oportunidade de observar as reuniões do Araras Sem Lixo que definiram as metas do projeto. As reuniões foram mais úteis para se conhecer o perfil dos participantes do que os formulários.Também foram realizadas entrevistas informais, análise de documentos e o local de estágio foi fotografado.
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL “NO ARARAS SEM LIXO”
A Organização Não-Governamental Projeto Araras, fundada em janeiro de 2001, está localizada no Bairro de Araras, no Distrito de Cascatinha, em Petrópolis, região serrana do Estado do Rio de Janeiro.Bastante procurado por turistas, tem 8.000 habitantes em 15 quilômetros de extensão, 2500 residências, 13 condomínios, 14 restaurantes, 8 pousadas, 5 áreas de ocupação desordenada, 1, creche, 1 shopping, 5 escolas, 4 públicas e 1 particular, sendo esta a única com ensino médio.
A Ong tem por objetivo melhorar a qualidade de vida, preservar e recuperar o meio ambiente em Araras,através da participação e envolvimento da comunidade. Fazem parte do Conselho, representantes das sete localidades de Araras (Poço dos Peixes, Cruzeiro, Mombaça, Perobas, Vale de Santa Luzia, Vista Alegre e Malta) e também do bairro – Vale das Videiras. Até maio de 2003 contava com 596 cadastrados. Destes, 20 são voluntários efetivos, ou seja, participam com mais freqüência dos projetos, e 109 contribuem financeiramente. Até junho de 2003, estavam elaborados os seguintes programas: Meio Ambiente (com os projetos Araras Sem Lixo, Água e Corredor de Vida Silvestre); Educação (subdividido em Memória e Espaço Cultural);Infra-estrutura e Segurança. Estão em funcionamento o Araras Sem Lixo e o Espaço Cultural, que oferece cursos para comunidade local. Para o desenvolvimento destes projetos, antes da fundação oficial, os participantes da ong fizeram um levantamento para saber quais as principais necessidades do bairro.
O Projeto Araras Sem Lixo é o que obteve maior repercussão local e que possui maior divulgação em veículos de comunicação com alcance estadual e nacional. Este projeto foi também o primeiro da ONG, e começou antes mesmo da organização existir oficialmente. Problemas relacionados ao lixo são comuns em Araras. Além da poluição dos rios, casos de leptospirose ocorreram no bairro, e as queimadas nas matas, provocadas pela queima de forma inadequada do lixo verde, são freqüentes. A coleta de lixo antes não era regular, mas o Araras Sem Lixo conseguiu que fosse normalizada, em alguns logradouros. Em Petrópolis a coleta de lixo e a limpeza urbana e rural são de responsabilidade da COMDEP (Companhia Municipal de Desenvolvimento de Petrópolis), uma empresa de economia mista (pública/privada).
Os objetivos do Araras Sem Lixo, conforme informações obtidas no site www.projetoararas.org.br, são: Conscientizar a população de moradores, veranistas e visitantes através de educação nas escolas e campanhas. Tendo como meta a melhoria da qualidade de vida e preservação da beleza e saúde local; Parceria da comunidade com os órgãos competentes ;Implantação da coleta seletiva e galpão de reciclagem. Os participantes da ONG têm uma visão holística de meio ambiente, ou seja “de que o ser humano é natureza e não parte dela” (GUIMARÃES, 1993,p.30), embora sejam pessoas com formação educacional das mais diversas. Participam artesãos, advogados, médicos, comerciantes, professoras, entre outros. Nota-se também que os participantes sabem como deve ser o processo de comunicação, sabem com quem devem falar na imprensa local, utilizam a internet para divulgação, mas dois problemas foram detectados: a falta de verba para um projeto de comunicação próprio e a falta de voluntários para fazer este tipo de serviço.
A ONG tem duas funcionárias para todas as tarefas administrativas e nem sempre elas têm tempo de fazer uma divulgação. Elas elaboram os informativos trimestrais, que são enviados por e-mail para todos os cadastrados. O site – www.projetoararas.org.br é atualizado por uma das secretárias, mas foi desenvolvido por um voluntário que depois não completou o serviço. Observa-se que o veículo mais utilizado é a internet, tanto para a comunicação com o público interno quanto com o externo. Embora não seja elaborado por especialistas, pode-se reconhecer a função jornalística da comunicação de massa, nos informativos e no site, que é realizada “através da captação, interpretação e difusão de informações e opiniões sobre fatos, idéias e situações atuais, de interesse e importância para a segurança e orientação de cada indivíduo e da sociedade como tal.” (BELTRÃO, 1986,p.142).
Através do site é possível claramente perceber que a ONG concorda com os conceitos de desenvolvimento sustentável e de educação ambiental atuais, ao deixar claro que quer o envolvimento de todos na questão e procura “levantar os principais problemas da comunidade….os conhecimentos necessários e as possibilidades concretas para a solução deles” (REIGOTA, 1994,p.27). A Carta da Terra é um dos destaques da homepage, o que reforça a idéia de que a ONG tem compromisso com as discussões ambientais mais recentes. A comunicação direta através do uso do telefone, da mala direta e do “boca a boca” também faz parte da estratégia de divulgação, pois nem todos os cadastrados têm acesso à internet. Quando conseguem patrocínio, fazem também cartazes e folders. As camisetas com ilustrações do cartunista Miguel Paiva, além de ser uma forma de conseguir recursos financeiros, também servem de divulgação pois têm o logotipo do Araras Sem Lixo e os coordenadores sempre que vão a algum evento usam a camiseta como forma de propaganda.
O Festival da Limpeza, principal atividade do Araras Sem Lixo, em 2003 terá a quarta edição. No início era chamado de DIA DA FAXINA, mas em 2002, como durou quase um mês, se transformou num festival onde outras atividades paralelas, para alertar sobre o problema do lixo, foram realizadas no bairro. Porém, o que mais chama a atenção é a faxina ou limpeza feita nos rios por moradores, veranistas, turistas e até mesmo residentes de outros bairros. De acordo com os resultados obtidos até agora, pode-se acreditar que a divulgação está surtindo efeito. Na 1ª campanha foram retiradas 177 toneladas de lixo, na 2ª 143 toneladas e na 3ª 59 toneladas. O fato da quantidade de lixo retirada ter diminuído é considerado um resultado positivo, pois pode significar que menos lixo foi jogado no rio durante o ano, ou seja, a comunidade estaria se sensibilizando e os conceitos de educação ambiental estariam se tornando parte do cotidiano. Embora isto não possa ser comprovado com absoluta certeza, porque não se contabilizou exatamente quantas pessoas participaram da limpeza. O Projeto Araras pelo DIA DA FAXINA recebeu, em 2002, o diploma Your Community Our Earth em reconhecimento a todas as comunidades e organizações do mundo inteiro que participam do Programa Clean UP The World. Uma parceria entre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e a ONG, australiana, Clean Up The World para limpar o mundo.
Os coordenadores do projeto acreditam que ainda há muito o quê fazer nesta área e que a comunicação ainda não é feita de modo que atinja a toda comunidade. Porém, ao observar como este projeto é realizado, nota-se que já estão mais organizados na hora de pensar no processo de comunicação. Para reunir todos os cadastrados neste projeto (até o final de maio eram 36), as secretárias enviam primeiro um e-mail e depois confirmam por telefone se as pessoas comparecerão à reunião programada.
Na primeira reunião observada (30/03/03), apenas 8 pessoas compareceram. O objetivo era definir as metas de 2003, entre elas, o Festival da Limpeza. Durante este encontro algumas pessoas comentaram sobre a dificuldade para divulgação e foi nesta reunião que aceitaram o convite para uma palestra na UCP (Universidade Católica de Petrópolis) o que foi apontado como uma oportunidade de divulgar, não só o Araras Sem Lixo, mas também o Projeto Araras.
Pode-se constatar também que os participantes têm uma grande preocupação com a questão da Educação Ambiental. Embora o evento principal, o Festival da Limpeza, fosse o de mais destaque naquele dia, a questão da EA como uma mudança de comportamento foi comentada várias vezes, pois acreditam que é necessário um trabalho durante todo o ano, principalmente com as escolas, para que haja uma redução do lixo. Por isso, neste dia um assunto que deixou os participantes satisfeitos foi o de que a Comdep instalou as sete placas com frases de conscientização, pedidas há quatro anos. (Uma das frases era o acróstico “Ar Puro – Rios Limpos -A natureza agradece –Respeite-Araras – Sem Lixo!”) Alguns comentaram sobre a dificuldade da leitura, pois achavam que havia muita informação. Isto mostrou preocupação com a forma de transmitir a mensagem, ou seja, uma preocupação com o feedback, que em comunicação significa, “uma resposta a uma mensagem” (DIMBLEBY&BURTON, 1990,p.214) que neste caso era o entendimento dos conceitos de preservação ambiental. Mas, a questão das placas mostra que o PA ainda terá muito trabalho para sensibilizar a comunidade, pois até o final desta pesquisa, só uma placa sobreviveu aos vândalos, as outras foram arrancadas.
Outro assunto colocado em pauta na primeira reunião foi o patrocínio de uma história em quadrinhos elaborada pelo cartunista Miguel Paiva, há dois anos, que não cobrou pelo trabalho, pois ele também é cadastrado no projeto, mas há necessidade de patrocínio para ser publicado. Esta HQ, que conta a história de Ararinho e Vô Pedro, será distribuída nas escolas e no comércio local e tem por objetivo atingir toda a comunidade através de um texto leve e divertido, alertando para a necessidade de preservação de Araras e dos problemas gerados pelo lixo jogado no bairro pela geração atual e as conseqüências para a geração futura. Durante o encontro uma das coordenadoras lembrou que a EA faz parte dos PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais), mas que nas escolas de Araras isto não está ocorrendo. Por isso, as escolas locais são o lugar ideal para o PA desenvolver projetos de educação ambiental.
Uma das grandes preocupações do “grupo do lixo” , como alguns voluntários denominam o projeto, é com o incentivo à reciclagem. Em Araras apenas um coletor recolhe todo o lixo reciclável (cerca de 12 toneladas) porém, o trabalho de reciclagem está parado, porque não há um local em Araras apropriado para isto. Pelos assuntos discutidos, observou-se que as pessoas envolvidas têm uma noção de que natureza e ser humano não podem se separar. Talvez algumas nem tenham percebido isso, mas foi comum ouvir expressões como “não podemos fazer uma campanha, sem pensarmos nos problemas dos moradores em relação ao lixo, não é só manter a beleza do local, precisamos pensar nas pessoas, e nas conseqüências do lixo…etc”. O que lembra as recomendações da Conferência de Tbilisi, como “ajudar os alunos a descobrirem os sintomas e as causas reais dos problemas ambientais” (GUIMARÃES,1995,p.21) e “ressaltar a complexidade dos problemas ambientais e, em conseqüência,a necessidade de se desenvolver o sentido crítico e as atitudes necessárias para resolvê-los” (Idem).Nesta reunião foi sugerido fazer o festival em setembro, para coincidir com a clean-up the world, ong australiana que mantém contatos com o Projeto Araras e que promove o dia Mundial da Limpeza.
De acordo com as coordenadoras do Araras Sem Lixo, depois de três festivais, este ano, o rio não encheu por causa do lixo. Em 2003 quando ocorreram as chuvas de janeiro o rio de Araras não transbordou como acontecia anteriormente. Já o Rio Piabanha, no Centro de Petrópolis,encheu rapidamente. Em 2001 os efeitos positivos desta atividade também foram percebidos, conforme noticiado no Jornal do Brasil.
Na segunda reunião (06/05/03),com representantes das escolas, foram decididas as principais atividades e estratégias para o Festival da limpeza marcado para o período de 19 de setembro a 31 de outubro, sendo que o DIA DA FAXINA será em 20 de setembro, para coincidir com a campanha da ONG Clean-Up-The-World. Durante a reunião ficou claro que o objetivo das coordenadoras não é simplesmente limpar o rio, mas sim fazer com que o lixo não seja jogado no rio, ou seja, fazer com que a EA seja utilizada para “despertar o indivíduo a participar ativamente na solução de problemas ambientais do seu cotidiano” (PEDRINI, 2002,p.28). Esta discussão surgiu porque uma professora achou que setembro ficaria muito longe da época das chuvas e quando chovesse o rio estaria cheio de novo. Nota-se aí uma dificuldade de conscientizar a comunidade “de mudar os comportamentos individuais e sociais” (REIGOTA, 1994,p.30).
Para 2003, com o objetivo de fazer uma interação entre as escolas, ficou sob responsabilidade das professoras a apresentação de palestras dos alunos maiores para os menores, sendo que cada escola fará as apresentações nas outras escolas. Os próprios alunos farão a pesquisa, obviamente, com o tema lixo, enfocando o ambiente e o ser humano.
No segundo encontro foi decidido o quê se poderia chamar de ações de comunicação para o Festival da Limpeza. Se conseguirem patrocínio, utilizarão os seguintes meios: Faixas ou banners, para serem colocados em todo o bairro; spots, gravados por algum artista que tenha casa em Araras, para serem veiculados em carros de som pelo bairro;cartazes e folhetos com distribuição nos condomínios; a história em quadrinhos de Miguel Paiva. Algumas professoras ficaram preocupadas com as faixas e o carro de som, para que não ocorra poluição visual ou sonora, e a propaganda acabe trazendo transtornos. Por isso, concordaram em que assim que terminar o festival, o PA retirará todas as placas. Quanto ao som, esta seria a única maneira de atingir as localidades mais distantes. A divulgação na imprensa também foi citada, embora não como prioridade. Através dos meios escolhidos percebe-se que realmente querem atingir a comunidade, pois selecionaram meios específicos para atingir os moradores. No Festival da Limpeza algumas atividades que deram certo ano passado serão repetidas,como as palestras sobre ecologia, realizadas por um grupo de universitários e o Teatro da Fundação de Cultura (Mama to na Lona).
O Projeto Araras mantém um clipping atualizado, onde estão todos os recortes das notícias relacionadas ao Projeto Araras e ao bairro. De 50 matérias (entre notas de colunistas e reportagens) analisadas, 24 eram sobre o Araras Sem Lixo, sobre o programa Educação, e as outras sobre o distrito ecológico e problemas com antenas celulares. Normalmente estes contatos com a imprensa são feitos por telefone ou e-mail. Muitas vezes a iniciativa é da própria imprensa. Os textos destas matérias são dos jornalistas do veículo, não foram retirados de releases “texto informativo distribuído à imprensa por uma instituição privada, governamental, etc, para ser divulgado gratuitamente, entre as notícias publicadas pelo veículo” (RABAÇA&BARBOSA, Citado por LIMA,p.17), pois o Projeto Araras utiliza pouco este recurso, muito comum em assessorias de imprensa para “levar à redação notícia que possa servir de apoio” (FENAJ, 1994,p.25). Apenas na semana do Festival do Lixo, em 2002, foi enviada a programação, que um jornal local, publicou na íntegra .Através destas matérias constata-se que a imprensa local apóia e simpatiza com a causa da ONG.
Mesmo não tendo um processo de comunicação contínuo, o Araras Sem Lixo está conseguindo fazer com que as questões ambientais sejam discutidas. Já se tornou exemplo de desenvolvimento sustentável no artigo que está no Livro Desenvolvimento Sustentável em Petrópolis, da Viana&Mosley Editor. Ainda não conseguiu envolver todo o bairro, pois há muitos interesses diferentes na região e o problema ambiental, nem sempre é encarado como prioridade por alguns.Os condomínios, por exemplo, também participam, alguns já tem coletiva seletiva, composteira para o lixo verde e os proprietários estão atentos a desmatamentos. A dificuldade de acesso aos meios de comunicação por parte dos moradores dificulta as ações. A direção do PA está tentando fazer uma rádio comunitária, pois considera este veículo de fácil acesso aos moradores.
No final da pesquisa o método que o Projeto Araras estava utilizando para divulgar seus projetos, era participar dos eventos sobre meio ambiente que estavam acontecendo na cidade. Nesses eventos, sempre que tinha oportunidade, além de dar um cartão de visitas, a representante explicava sobre os trabalhos desenvolvidos pela ONG. Em um deles, fez uma interpelação em uma palestra, quando um professor deu a idéia de se fazer um dia da limpeza em Petrópolis, como se isso jamais tivesse acontecido em qualquer lugar do mundo. A representante aproveitou para explicar sobre o Festival da Limpeza e destacou que um dos problemas era, justamente, a divulgação.
CONCLUSÃO
O Processo de comunicação utilizado pelo Araras Sem Lixo, principalmente para a divulgação do Festival da Limpeza, se for feito como planejado, conseguirá alcançar os resultados pretendidos, pois a ONG está utilizando diversos meios, direcionados à comunidade que quer atingir. Deve-se levar em conta que o festival já está se tornando uma característica do local e que nos anos anteriores foi o projeto que deu a ONG esta imagem de credibilidade. Isto pode ser comprovado, na prática, pela quantidade de lixo recolhido, pelo número de pessoas da comunidade e de outros locais que se envolveram e pela repercussão obtida na mídia. Não há como garantir que em 2003 o sucesso será o mesmo, pois toda a estratégia de comunicação planejada para este ano, depende de patrocínio. Pelo que foi feito até agora, pode-se afirmar que o projeto já conseguiu envolver alguns grupos, por exemplo, as professoras, embora isto não signifique que toda a comunidade escolar participará, pois dependerá da forma como estas professoras farão a comunicação nas escolas. Para termos certeza de que o processo de comunicação utilizado pelo Araras Sem Lixo foi correto e que os meios de comunicação escolhidos influenciarão no resultado final, será necessário acompanhar os próximos passos e conferir o Festival da Limpeza, que serve como uma espécie de termômetro do PA, para saber se estão conseguindo passar, através dos meios de comunicação, alguma noção de EA. Ao conferir os resultados dos anos de 2001 e 2002, percebe-se que isto ocorreu de uma forma ainda tímida, mas significante, pois a comunidade já se preocupa com as questões ambientais. Mas o trabalho de educação ambiental não acontece de um dia para o outro, é uma tarefa que deve ser contínua e aqueles que se dispõem a fazê-la precisam ser persistentes.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BELTRÃO, Luiz; QUIRINIO, Newton de Oliveira. Subsídios para uma Teoria da Comunicação de Massa. São Paulo, Summus, 1986
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DIMBLEBY, Richard & Burton, GRAEME. Mais do que Palavras – Uma Introdução à Teoria da Comunicação. São Paulo, Summus Editorial, 2ª edição, 1990.
FENAJ, Federação Nacional de Assessoria de Imprensa, Manual Nacional de Assessoria de Imprensa, Rio de Janeiro, edição da Comissão Nacional dos Jornalistas em Assessoria de Imprensa da FENAJ, 1994.
GUIMARÃES, Mauro. A Dimensão Ambiental na Educação, São Paulo, Papirus, 1995.
LIMA, Gerson Moreira, Releasemania – Uma Contribuição para o Estudo do Press -release no Brasil – São Paulo,Summus Editorial, 1985.
MARTINS, Eduardo. Manual de Redação e Estilo . São Paulo, Editora Moderna, 1997.
MCLUHAN, Marshall; FIORE, Quentin. Os Meios de Comunicação (como extensões do homem).Tradução de Décio Pignatari, São Paulo, Cultrix, 1964.
PEDRINI, Alexandre de Gusmão. Educação Ambiental, Reflexões e Práticas Contemporâneas. Petrópolis-RJ, Vozes, 1997.
REIGOTA, Marcos. O Que é Educação Ambiental. São Paulo, Brasiliense, 1994.
_____.Meio Ambiente e Representação Social. São Paulo, Cortez, 2002.
AGRADECIMENTOS
Aos professores Dr.Alexandre Pedrini e Ms.Maria Esther Araújo, pela orientação, e a todos os participantes da ONG Projeto Araras, em especial à Presidente Beatriz S.L de Miranda, às secretárias Geiziane Vantini e Cibele Izidoro e às coordenadoras do Araras Sem Lixo Maria Isabel Nahon e Cecília Alvim.
Autora:
Teresinha de Jesus Fidelles de Almeida
Rua Zélia Rettmayer, nº 82 – Centro – Petrópolis – RJ – CEP: 25680-060
Instituição: Universidade Candido Mendes – Projeto A Vez do Mestre
Anais do VII Encontro de Educação Ambiental do Estado do Rio de Janeiro
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 23-25 de setembro de 2004
p. 445 – 456
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