Dos resíduos sólidos orgânicos pós-consumo gerados da Escola Estadual de Ensino Fundamental República de Quintino Bocaiúva no Estado do Rio de Janeiro, foram produzidos papéis reciclados de fibras de papéis usados, e posteriormente, utilizados para pinturas e objetos artísticos contemporâneos, mostrando como evitar o corte de árvores ao reutilizar o volume de papel reciclável em uma unidade educacional despertando a criatividade, propiciando o aperfeiçoamento do domínio motor e cultivando a sensibilidade artística e estética ao integrar o homem com o meio ambiente. Visando a criação de experiências significativas foram realizados pelos alunos de 5a e 6a séries diversos trabalhos em oficina, reutilizando os papéis nas artes plásticas e artesanais. Inúmeros tipos de materiais foram confeccionados, conforme a inventividade, a arte contemporânea foi inserida como meio de produção artística na melhoria do ambiente escolar, através de pintura, recortes e colagens que resultaram em cartões de felicitações, porta-retratos, caixas de presente, quadros e objetos decorativos. Essa produção foi exposta na feira cultural escolar, evento aberto à comunidade, mostrando como reutilizar, reduzir e reciclar o quantitativo de lixo produzido em uma instituição de ensino, com consciência ecológica, estimulando a qualidade de vida populacional. INTRODUÇÃO
A arte tem feito parte de nossas vidas há pelo menos 40 mil anos, pinturas préhistóricas registradas em paredes, grutas e cavernas onde o homem demonstrava sua expressão artística fazendo arte pela arte (MESTRINER, 2000).A produção de formas físicas, capacidade de expressar uma idéia, empregando um material que possa ser trabalhado, ou seja prática de atividade que depende de inteligência e habilidade é definida por MATTOS, 1996.
Atualmente a arte é definida como uma obra em aberto que convida os espectadores a produzirem sentidos múltiplos e provisórios. Lidar com a arte contemporânea é lidar com um nível de entendimento onde o sentido não está a priori. É um reflexo de nosso tempo. É inventada a cada dia ao explorar novas formas de linguagens que utilizam as mais variadas narrativas. A escolha de materiais estranhos como sangue, minhocas, meias e lixo em vez de tintas, cavaletes ou pincéis, já não causa espanto aos apreciadores das artes formais (SALGADO, 2002). Os objetos e a prática devem ser reconhecidos socialmente, como tais devem ser introduzidos, apreciados, comentados e mudados com o tempo seguindo os padrões de cada sociedade.
Reciclar papel é uma forma de reaproveitar partes das coisas que jogamos fora. E, diante da pluralidade de opções vislumbradas pela livre criação da arte na contemporaneidade, viu-se que matérias-primas fibrosas, tanto orgânicas como inorgânicas podiam ser utilizadas para compor, de uma folha de papel reciclado artesanal, uma peça de arte. Cerca de 40% do lixo urbano é papel que acabariam desperdiçados nos lixões e aterro das cidades (ANDRADE, 1999).
Segundo ALVES (1996), a cultura moderna valoriza apenas o novo. O reaproveitamento de materiais encontrados no lixo doméstico significa um incentivo à criatividade para transformação de sucata em matéria-prima e minimização de impactos ambientais evitando-se corte de árvores, pois, de acordo com GRIPPI (2001), uma tonelada de aparas pode evitar o corte de dez a doze árvores provenientes de plantações comerciais. O mesmo autor diz que a fabricação de papéis com uso de aparas gasta de 10 a 50 vezes menos água que no processo tradicional, que usa celulose virgem, além de reduzir o consumo de energia pela metade.
O ecletismo da Arte Contemporânea trouxe a integração do objeto não artístico, criando uma nova alternativa onde os objetos deixam de ser utilitários se transformando em novas idéias e diversidades múltiplas atingindo o multiculturalismo podendo ser trabalhados diversos temas de fácil compreensão (MELO, 2002).
MATERIAL E MÉTODOS
A técnica de reciclagem de papel usada foi de acordo com FERREIRA (1983), complementada por ANDRADE (1999), que consiste na fabricação de papel utilizando matéria-prima para produção de papel reciclado, tratado por via úmida, com as seguintes etapas:
- depuração e desidratação grosseira (seleção e picagem);
- depuração final (fervura e eliminação de impurezas);
- desfibração dos elementos formando a pasta utilizando liquidificador caseiro durante 3 a 4 minutos, utilizando 1 litro de água para 25 a 30 g de papel velho previamente picado onde a pasta de papel, num recipiente com água, teve o pH corrigido para 8.
- adição de aglutinante e corante alimentício;
- introdução de moldura (20 x 30 cm) de tela de naylon para formar a folha de papel reciclado.
RESULTADOS
A reciclagem de papel na escola foi realizada através de oficinas “Reciclando Vida”, produzindo papel artesanalmente com efeitos decorativos usando de casca de cebola, flores secas, fios têxteis e purpurina. Foram confeccionados móbiles reutilizando CDs-Rom encapados com papel reciclado, assim como porta-retratos decorados artisticamente com tinta alto-relevo. Também foram confeccionados nas folhas de papel reciclado marcadores de livros, caixas com formatos geométricos e cartões diversos. Pinturas, recortes e colagens tinham como tema principal a natureza e a preservação ambiental.
CONCLUSÃO
As oficinas de reciclagem tiveram total participação, houve grande conscientização dos alunos em relação a preservação ambiental ao reciclar o papel e utiliza-lo na arte, ampliando o conhecimento cultural e valorizando o espaço escolar ao coletar e transformar o lixo em arte, obedecendo os 3 Rs (reduzir, reutilizar e reciclar), minimizando ecologicamente a quantidade de lixo.
Todas as etapas foram cumpridas integralmente pelos alunos que participaram das oficinas.
BIBLIOGRAFIA CITADA
ALVES,D.;TAVARES,C.& SÁ, R. O. Reaproveitar Sucata. Rio de Janeiro.1996.
ANDRADE, A. M. X Curso de Reciclagem Artesanal de Papel in Semana da Árvore/Jardim Botânico, UFRRJ, Out. 1999. – Seropédica – RJ
FERREIRA, José. Materiais Populares na Educação Artística. Belo Horizonte, 1983.
GRIPPI, S. Lixo, Reciclagem e sua História. Rio de Janeiro, Interciência. 2001.
MATTOS, G. Dicionário Júnior de Lingua Portuguesa. São Paulo, FTD. 1996.
MELO, Alexandre. Reflexo do nosso Tempo. Rio Arte nº31 – setembro 2002 – Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro – Secretaria da Cultura – p.27.
MESTRINER, M. N.; Ferreira, M.; Kairalla, C. A. A.; Gusman, A.; Gusman, S. & Touso, D. Meio ambiente. Coleção Temas Transversais. Ícone – 2000.
SALGADO, R. Reflexo do nosso Tempo. Rio Arte nº31 – setembro 2002, Ano 11 – Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro – Secretaria da Cultura – p.4.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à direção, ao corpo docente e discente do Colégio Estadual Antonio Gonçalves pela oportunidade que nos deram de colocar em prática a nossa pesquisa-ação, cujos resultados satisfatórios nos levaram a apresentá-lo ao Recicla Três Rios, às Secretarias Municipais de Educação de Três Rios, Paraíba do Sul, Sapucaia e Paracambi, aos quais agradecemos por terem acreditado na nossa proposta e estimularem a participação de seus professores no mesmo.
AUTORES
- Soraya Briggs Ferreira
- Cristiane D. de Jesus
- Elizete Amorim
- Euza B. dos Santos
- Ana Amélia R. Damasceno
- Anderson do C. Candido
- José Henrique Soares
- Lenir B. Teixeira
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