sábado, 17 de setembro de 2011
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
As responsabilidades
A participação das entidades de classe, de organizações não-governamentais e da população em geral, sempre é desejável, até como forma de dividir responsabilidades.
Contudo, algumas atividades devem permanecer centralizadas e sob a responsabilidade da administração municipal, como:
- Levantamento de dados, caracterização dos resíduos, realização de medições diversas e elaboração de plantas e planos de trabalho;
- Elaboração de estatísticas sobre o desenvolvimento dos trabalhos e cálculo das receitas e despesas;
- Elaboração e veiculação dos instrumentos de divulgação propostos e definição de conteúdos e locais onde serão afixados ou entregues;
- Organização de catadores em cooperativas, formação de centros de triagem e coordenação de reuniões com representantes da comunidade;
- Divulgação das dificuldades e dos resultados.
Coordenadoria de Planejamento Ambiental Estratégico e Educação Ambiental - CPLEA
Departamento de Educação Ambiental - DEA / CPLEA
A COMUNICAÇÃO NA ADAPTAÇÃO DA NOVA ROTINA
O plano de trabalho, as metas, bem como as rotinas e responsabilidades da administração pública e da população devem ser amplamente divulgados. As alterações também devem ser precedidas de comunicados, concedendo-se à população tempo suficiente para adaptar-se à nova rotina.
Para a divulgação do plano de trabalho podem ser utilizados os veículos de comunicação, como rádio, televisão, jornais e folhetos explicativos, além de comunicados verbais em escolas, igrejas e associações. O importante é que a população tenha acesso às informações que deverão ser transmitidas, de forma clara e objetiva.
É importante que a imagem da municipalidade perante a população denote atividade constante. Os cartazes e faixas utilizados na divulgação não devem ficar expostos até se deteriorarem, o que reflete abandono e esquecimento. Periodicamente, a critério da coordenação, faixas e cartazes devem ser substituídos e reutilizados em outros locais e ocasiões, desde que estejam bem conservados.
Fonte: Secretaria do Meio Ambiente
Coordenadoria de Planejamento Ambiental Estratégico e Educação Ambiental - CPLEA
Departamento de Educação Ambiental - DEA / CPLEA
PARTICIPAÇÃO E CIDADANIA
Secretaria do Meio Ambiente
Coordenadoria de Planejamento Ambiental Estratégico e Educação Ambiental - CPLEA
Departamento de Educação Ambiental - DEA / CPLEA
Av. Prof Frederico Hermann Jr., 345 - Alto de Pinheiros
05459-900 - São Paulo - SP
tel: 11 3030 6000
A participação da comunidade é fundamental para o sucesso de qualquer programa de coleta seletiva e a educação ambiental é o melhor recurso, capaz de contribuir para informar e mobilizar a população.
A educação ambiental propicia a revisão dos conceitos ligados ao lixo, sua geração, composição e importância ambiental, mobilizando a população para identificar o que é reaproveitável a fim de minimizar os efeitos do desperdício dos recursos naturais.
Na coleta seletiva, boa parte das responsabilidades recai sobre a população beneficiada, a quem compete a separação dos materiais, a lavagem dos recipientes, o acondicionamento, o armazenamento e, finalmente, a deposição dos materiais no local, nos dias e horários estabelecidos.
Por isso, a divulgação do serviço da coleta seletiva, as tarefas e benefícios envolvidos são condições de vital importância para que o processo seja bem sucedido.
A coleta seletiva, de fato, mobiliza toda a comunidade. Contudo, caso não seja realizada uma preparação anterior para sensibilizar a população, serão grandes os riscos de esmorecimento e perda de objetivos, com desgaste para a administração municipal, criando uma imagem negativa para a coleta seletiva, hoje considerada atividade imprescindível para o futuro do planeta.
www.recicloteca.org.br
O processo de reciclagem é composto de várias fases, porém sua realização depende de uma ação fundamental: a separação prévia dos materiais. Misturar os materiais recicláveis com o lixo prejudica o reaproveitamento. Se o material reciclável for armazenado de forma separada, possibilita-se um maior aproveitamento. Esse é só o começo do que chamamos de coleta seletiva. Trata-se da separação e recolhimento, desde a origem, dos materiais potencialmente recicláveis.
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http://www.uniagua.org.br/website/default.asp?tp=3&pag=residuos.htm#residuos2
2. No ano 500 a.C., Atenas criou o primeiro lixão municipal, exigindo que os detritos fossem jogados a pelo menos 1,6 quilômetro das muralhas da cidade
3. O inventor inglês Peter Durand patenteou a lata de lixo em 1810
4. Aterros sanitários representam a maior fonte de metano produzido pelo homem. A cada ano, 7 milhões de toneladas de metano vão parar na atmosfera
5. Os americanos produzem 212 milhões de toneladas de lixo por ano, das quais 43 milhões de toneladas são restos de comida
6. Isso significa 711 quilos produzidos por habitante a cada ano
7. No Brasil, são 88 milhões de toneladas de lixo por ano, ou 470 quilos por habitante
8. Das 13.800 toneladas de lixo produzidas por dia na cidade de São Paulo, apenas 1% é reciclado
9. Curitiba é o município brasileiro que mais recicla: 20% de todos os resíduos
10. No mundo, o Japão é um dos países que mais reciclam: 50% do lixo é reaproveitado
11. Os americanos jogam fora 50 bilhões de latas de alumínio por ano. Todas as latas desse material que foram para o lixo nos Estados Unidos nas últimas três décadas valem quase US$ 20 bilhões
12. No quesito alumínio, o Brasil vai bem: é o país que mais recicla latas no planeta. Em 2004, foram 9 bilhões de latinhas reaproveitadas, ou 96% da produção total do país
13. Em 2002, o oceanógrafo americano Charles Moore vasculhou uma área de 800 quilômetros quadrados do Oceano Pacífico e encontrou 4,5 quilos de resíduos plásticos flutuando no mar para cada meio quilo de plâncton
terça-feira, 30 de agosto de 2011
Arte Contemporânea em Papel Reciclado Confeccionado numa Escola Pública da Faetec
Dos resíduos sólidos orgânicos pós-consumo gerados da Escola Estadual de Ensino Fundamental República de Quintino Bocaiúva no Estado do Rio de Janeiro, foram produzidos papéis reciclados de fibras de papéis usados, e posteriormente, utilizados para pinturas e objetos artísticos contemporâneos, mostrando como evitar o corte de árvores ao reutilizar o volume de papel reciclável em uma unidade educacional despertando a criatividade, propiciando o aperfeiçoamento do domínio motor e cultivando a sensibilidade artística e estética ao integrar o homem com o meio ambiente. Visando a criação de experiências significativas foram realizados pelos alunos de 5a e 6a séries diversos trabalhos em oficina, reutilizando os papéis nas artes plásticas e artesanais. Inúmeros tipos de materiais foram confeccionados, conforme a inventividade, a arte contemporânea foi inserida como meio de produção artística na melhoria do ambiente escolar, através de pintura, recortes e colagens que resultaram em cartões de felicitações, porta-retratos, caixas de presente, quadros e objetos decorativos. Essa produção foi exposta na feira cultural escolar, evento aberto à comunidade, mostrando como reutilizar, reduzir e reciclar o quantitativo de lixo produzido em uma instituição de ensino, com consciência ecológica, estimulando a qualidade de vida populacional. INTRODUÇÃO
A arte tem feito parte de nossas vidas há pelo menos 40 mil anos, pinturas préhistóricas registradas em paredes, grutas e cavernas onde o homem demonstrava sua expressão artística fazendo arte pela arte (MESTRINER, 2000).A produção de formas físicas, capacidade de expressar uma idéia, empregando um material que possa ser trabalhado, ou seja prática de atividade que depende de inteligência e habilidade é definida por MATTOS, 1996.
Atualmente a arte é definida como uma obra em aberto que convida os espectadores a produzirem sentidos múltiplos e provisórios. Lidar com a arte contemporânea é lidar com um nível de entendimento onde o sentido não está a priori. É um reflexo de nosso tempo. É inventada a cada dia ao explorar novas formas de linguagens que utilizam as mais variadas narrativas. A escolha de materiais estranhos como sangue, minhocas, meias e lixo em vez de tintas, cavaletes ou pincéis, já não causa espanto aos apreciadores das artes formais (SALGADO, 2002). Os objetos e a prática devem ser reconhecidos socialmente, como tais devem ser introduzidos, apreciados, comentados e mudados com o tempo seguindo os padrões de cada sociedade.
Reciclar papel é uma forma de reaproveitar partes das coisas que jogamos fora. E, diante da pluralidade de opções vislumbradas pela livre criação da arte na contemporaneidade, viu-se que matérias-primas fibrosas, tanto orgânicas como inorgânicas podiam ser utilizadas para compor, de uma folha de papel reciclado artesanal, uma peça de arte. Cerca de 40% do lixo urbano é papel que acabariam desperdiçados nos lixões e aterro das cidades (ANDRADE, 1999).
Segundo ALVES (1996), a cultura moderna valoriza apenas o novo. O reaproveitamento de materiais encontrados no lixo doméstico significa um incentivo à criatividade para transformação de sucata em matéria-prima e minimização de impactos ambientais evitando-se corte de árvores, pois, de acordo com GRIPPI (2001), uma tonelada de aparas pode evitar o corte de dez a doze árvores provenientes de plantações comerciais. O mesmo autor diz que a fabricação de papéis com uso de aparas gasta de 10 a 50 vezes menos água que no processo tradicional, que usa celulose virgem, além de reduzir o consumo de energia pela metade.
O ecletismo da Arte Contemporânea trouxe a integração do objeto não artístico, criando uma nova alternativa onde os objetos deixam de ser utilitários se transformando em novas idéias e diversidades múltiplas atingindo o multiculturalismo podendo ser trabalhados diversos temas de fácil compreensão (MELO, 2002).
MATERIAL E MÉTODOS
A técnica de reciclagem de papel usada foi de acordo com FERREIRA (1983), complementada por ANDRADE (1999), que consiste na fabricação de papel utilizando matéria-prima para produção de papel reciclado, tratado por via úmida, com as seguintes etapas:
- depuração e desidratação grosseira (seleção e picagem);
- depuração final (fervura e eliminação de impurezas);
- desfibração dos elementos formando a pasta utilizando liquidificador caseiro durante 3 a 4 minutos, utilizando 1 litro de água para 25 a 30 g de papel velho previamente picado onde a pasta de papel, num recipiente com água, teve o pH corrigido para 8.
- adição de aglutinante e corante alimentício;
- introdução de moldura (20 x 30 cm) de tela de naylon para formar a folha de papel reciclado.
RESULTADOS
A reciclagem de papel na escola foi realizada através de oficinas “Reciclando Vida”, produzindo papel artesanalmente com efeitos decorativos usando de casca de cebola, flores secas, fios têxteis e purpurina. Foram confeccionados móbiles reutilizando CDs-Rom encapados com papel reciclado, assim como porta-retratos decorados artisticamente com tinta alto-relevo. Também foram confeccionados nas folhas de papel reciclado marcadores de livros, caixas com formatos geométricos e cartões diversos. Pinturas, recortes e colagens tinham como tema principal a natureza e a preservação ambiental.
CONCLUSÃO
As oficinas de reciclagem tiveram total participação, houve grande conscientização dos alunos em relação a preservação ambiental ao reciclar o papel e utiliza-lo na arte, ampliando o conhecimento cultural e valorizando o espaço escolar ao coletar e transformar o lixo em arte, obedecendo os 3 Rs (reduzir, reutilizar e reciclar), minimizando ecologicamente a quantidade de lixo.
Todas as etapas foram cumpridas integralmente pelos alunos que participaram das oficinas.
BIBLIOGRAFIA CITADA
ALVES,D.;TAVARES,C.& SÁ, R. O. Reaproveitar Sucata. Rio de Janeiro.1996.
ANDRADE, A. M. X Curso de Reciclagem Artesanal de Papel in Semana da Árvore/Jardim Botânico, UFRRJ, Out. 1999. – Seropédica – RJ
FERREIRA, José. Materiais Populares na Educação Artística. Belo Horizonte, 1983.
GRIPPI, S. Lixo, Reciclagem e sua História. Rio de Janeiro, Interciência. 2001.
MATTOS, G. Dicionário Júnior de Lingua Portuguesa. São Paulo, FTD. 1996.
MELO, Alexandre. Reflexo do nosso Tempo. Rio Arte nº31 – setembro 2002 – Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro – Secretaria da Cultura – p.27.
MESTRINER, M. N.; Ferreira, M.; Kairalla, C. A. A.; Gusman, A.; Gusman, S. & Touso, D. Meio ambiente. Coleção Temas Transversais. Ícone – 2000.
SALGADO, R. Reflexo do nosso Tempo. Rio Arte nº31 – setembro 2002, Ano 11 – Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro – Secretaria da Cultura – p.4.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à direção, ao corpo docente e discente do Colégio Estadual Antonio Gonçalves pela oportunidade que nos deram de colocar em prática a nossa pesquisa-ação, cujos resultados satisfatórios nos levaram a apresentá-lo ao Recicla Três Rios, às Secretarias Municipais de Educação de Três Rios, Paraíba do Sul, Sapucaia e Paracambi, aos quais agradecemos por terem acreditado na nossa proposta e estimularem a participação de seus professores no mesmo.
AUTORES
- Soraya Briggs Ferreira
- Cristiane D. de Jesus
- Elizete Amorim
- Euza B. dos Santos
- Ana Amélia R. Damasceno
- Anderson do C. Candido
- José Henrique Soares
- Lenir B. Teixeira
Comunicação e Educação Ambiental: Um Estudo de Caso no “Araras Sem Lixo”
Não existem projetos em que a forma de comunicação não seja importante ou mesmo decisiva para se alcançar um resultado satisfatório. Este estudo tem por objetivo conhecer o processo de comunicação de uma organização não-governamental, que trabalha com projetos ligados ao meio ambiente com ênfase na educação ambiental. A Ong pesquisada, o Projeto Araras, localizada no bairro de Araras, (distrito de Cascatinha, Petrópolis, região serrana do Estado do Rio de Janeiro), possui vários projetos ligados à educação ambiental.Para facilitar a compreensão do tema, foi escolhido como objeto de estudo o projeto da ONG que teve maior repercussão na comunidade, o Projeto Araras Sem Lixo.A partir de observações, entrevistas informais e documentos da instituição, foi possível conhecer quais os meios utilizados, de que forma, quais as dificuldades encontradas pelos profissionais envolvidos e o porquê destas dificuldades.Tentou-se identificar se os meios utilizados pela ONG serviram para informar, comunicar e educar.Verificou-se que a ong consegue, através de alguns determinados meios de comunicação, informar a comunidade e alguns setores do bairro, como as escolas, que participam efetivamente das atividades do projeto.
INTRODUÇÃO
Numa sociedade em que a comunicação de massa exerce um poder inquestionável e portanto é responsável pela transmissão e fixação de muitos conceitos, saber de que forma os meios de comunicação social influenciam na divulgação e execução de projetos de educação ambiental, realizados por uma Organização Não-Governamental, é um tema que deve ser estudado pois o conceito de EA ainda não foi compreendido pela maior parte da população. A EA apresenta
“uma nova dimensão a ser incorporada ao processo educacional, trazendo toda uma recente discussão sobre as questões ambientais,e as conseqüentes transformações de conhecimento, valores e atitudes diante de uma nova realidade a ser construída” (GUIMARÃES, 1995,p.9).
Para compreendermos Comunicação Social e Educação Ambiental é necessário termos uma definição do que são os meios de comunicação e meio ambiente. Os meios de comunicação podem ser analisados como extensões do homem e classificados como meios quentes e meios frios. “O quente é aquele que prolonga um único de nossos sentidos e em alta definição. Por exemplo, uma fotografia, o rádio… já o meio frio seria caracterizado pela baixa definição, como um desenho ou o telefone” (MCLUHAN, 1964,p.38).
O meio ambiente pode ser considerado o
“um lugar determinado e/ou percebido onde estão em relações dinâmicas e em constante interação os aspectos naturais e sociais.Essas relações acarretam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e políticos de transformação da natureza e da sociedade” (REIGOTA, 2001,p.21).
Um processo de comunicação realizado de forma eficaz contribui para o sucesso de qualquer empreendimento ou atividade. Por isso, analisar de que forma a comunicação poderá contribuir para que as ações em EA sejam efetivadas com sucesso, torna-se uma necessidade. Partindo do raciocínio de que uma ONG ou mesmo uma escola tem uma estrutura de empresa, pode-se pensar no processo de comunicação da mesma forma. Ou seja, a comunicação deve “proporcionar segurança, continuidade e criatividade através da compreensão mútua da coletividade, entre emissor e receptor, sejam esses quem forem e em que momento ocuparem cada uma dessas posições” (LIMA,1985,p.27).Portanto, o trabalho de divulgação, de assessoria de imprensa poderia ser executado com os mesmos critérios,ou seja, o Assessor de Imprensa seria “o responsável por múltiplas atividades e desempenha papel estratégico na política de comunicação dos assessorados” (FENAJ, 1998,p.12). Mas, deve-se destacar que não basta usar todas as técnicas e meios de comunicação disponíveis, é preciso “levar em conta sua ética, sua operacionalidade, o benefício para todas as pessoas em todos os setores profissionais” (LIMA, 1985,p.5).
METODOLOGIA
Para a realização desta monografia o primeiro passo foi uma pesquisa bibliográfica sobre Comunicação Social e Educação Ambiental. Após esta pesquisa foram escolhidos quais os autores que seriam utilizados como referência teórica. Em seguida, foi realizada uma pesquisa nos jornais locais e assim foi escolhida a instituição que seria o objeto de estudo de caso, a Organização Não Governamental Projeto Araras. Através de uma pesquisa de campo, onde foram coletados no local, os dados sobre a instituição escolhida, foi feito um estágio de observação, participativa, onde se pode acompanhar, entre os meses de fevereiro e junho de 2003, o processo de comunicação do projeto Araras Sem Lixo. Com o objetivo de conhecer o perfil dos integrantes da ong, foram entregues formulários com as seguintes perguntas:Qual seu objetivo ao participar de uma ONG?; O que é Meio Ambiente; O que é Educação Ambiental? O que é desenvolvimento sustentável? Quais os meios de comunicação utilizados para divulgar os projetos da ONG?;e De que forma a Comunicação Social pode auxiliar nos projetos desenvolvidos pela ONG? De dez formulários deixados no Projeto Araras, dois foram respondidos.
Durante o estágio teve-se a oportunidade de observar as reuniões do Araras Sem Lixo que definiram as metas do projeto. As reuniões foram mais úteis para se conhecer o perfil dos participantes do que os formulários.Também foram realizadas entrevistas informais, análise de documentos e o local de estágio foi fotografado.
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL “NO ARARAS SEM LIXO”
A Organização Não-Governamental Projeto Araras, fundada em janeiro de 2001, está localizada no Bairro de Araras, no Distrito de Cascatinha, em Petrópolis, região serrana do Estado do Rio de Janeiro.Bastante procurado por turistas, tem 8.000 habitantes em 15 quilômetros de extensão, 2500 residências, 13 condomínios, 14 restaurantes, 8 pousadas, 5 áreas de ocupação desordenada, 1, creche, 1 shopping, 5 escolas, 4 públicas e 1 particular, sendo esta a única com ensino médio.
A Ong tem por objetivo melhorar a qualidade de vida, preservar e recuperar o meio ambiente em Araras,através da participação e envolvimento da comunidade. Fazem parte do Conselho, representantes das sete localidades de Araras (Poço dos Peixes, Cruzeiro, Mombaça, Perobas, Vale de Santa Luzia, Vista Alegre e Malta) e também do bairro – Vale das Videiras. Até maio de 2003 contava com 596 cadastrados. Destes, 20 são voluntários efetivos, ou seja, participam com mais freqüência dos projetos, e 109 contribuem financeiramente. Até junho de 2003, estavam elaborados os seguintes programas: Meio Ambiente (com os projetos Araras Sem Lixo, Água e Corredor de Vida Silvestre); Educação (subdividido em Memória e Espaço Cultural);Infra-estrutura e Segurança. Estão em funcionamento o Araras Sem Lixo e o Espaço Cultural, que oferece cursos para comunidade local. Para o desenvolvimento destes projetos, antes da fundação oficial, os participantes da ong fizeram um levantamento para saber quais as principais necessidades do bairro.
O Projeto Araras Sem Lixo é o que obteve maior repercussão local e que possui maior divulgação em veículos de comunicação com alcance estadual e nacional. Este projeto foi também o primeiro da ONG, e começou antes mesmo da organização existir oficialmente. Problemas relacionados ao lixo são comuns em Araras. Além da poluição dos rios, casos de leptospirose ocorreram no bairro, e as queimadas nas matas, provocadas pela queima de forma inadequada do lixo verde, são freqüentes. A coleta de lixo antes não era regular, mas o Araras Sem Lixo conseguiu que fosse normalizada, em alguns logradouros. Em Petrópolis a coleta de lixo e a limpeza urbana e rural são de responsabilidade da COMDEP (Companhia Municipal de Desenvolvimento de Petrópolis), uma empresa de economia mista (pública/privada).
Os objetivos do Araras Sem Lixo, conforme informações obtidas no site www.projetoararas.org.br, são: Conscientizar a população de moradores, veranistas e visitantes através de educação nas escolas e campanhas. Tendo como meta a melhoria da qualidade de vida e preservação da beleza e saúde local; Parceria da comunidade com os órgãos competentes ;Implantação da coleta seletiva e galpão de reciclagem. Os participantes da ONG têm uma visão holística de meio ambiente, ou seja “de que o ser humano é natureza e não parte dela” (GUIMARÃES, 1993,p.30), embora sejam pessoas com formação educacional das mais diversas. Participam artesãos, advogados, médicos, comerciantes, professoras, entre outros. Nota-se também que os participantes sabem como deve ser o processo de comunicação, sabem com quem devem falar na imprensa local, utilizam a internet para divulgação, mas dois problemas foram detectados: a falta de verba para um projeto de comunicação próprio e a falta de voluntários para fazer este tipo de serviço.
A ONG tem duas funcionárias para todas as tarefas administrativas e nem sempre elas têm tempo de fazer uma divulgação. Elas elaboram os informativos trimestrais, que são enviados por e-mail para todos os cadastrados. O site – www.projetoararas.org.br é atualizado por uma das secretárias, mas foi desenvolvido por um voluntário que depois não completou o serviço. Observa-se que o veículo mais utilizado é a internet, tanto para a comunicação com o público interno quanto com o externo. Embora não seja elaborado por especialistas, pode-se reconhecer a função jornalística da comunicação de massa, nos informativos e no site, que é realizada “através da captação, interpretação e difusão de informações e opiniões sobre fatos, idéias e situações atuais, de interesse e importância para a segurança e orientação de cada indivíduo e da sociedade como tal.” (BELTRÃO, 1986,p.142).
Através do site é possível claramente perceber que a ONG concorda com os conceitos de desenvolvimento sustentável e de educação ambiental atuais, ao deixar claro que quer o envolvimento de todos na questão e procura “levantar os principais problemas da comunidade….os conhecimentos necessários e as possibilidades concretas para a solução deles” (REIGOTA, 1994,p.27). A Carta da Terra é um dos destaques da homepage, o que reforça a idéia de que a ONG tem compromisso com as discussões ambientais mais recentes. A comunicação direta através do uso do telefone, da mala direta e do “boca a boca” também faz parte da estratégia de divulgação, pois nem todos os cadastrados têm acesso à internet. Quando conseguem patrocínio, fazem também cartazes e folders. As camisetas com ilustrações do cartunista Miguel Paiva, além de ser uma forma de conseguir recursos financeiros, também servem de divulgação pois têm o logotipo do Araras Sem Lixo e os coordenadores sempre que vão a algum evento usam a camiseta como forma de propaganda.
O Festival da Limpeza, principal atividade do Araras Sem Lixo, em 2003 terá a quarta edição. No início era chamado de DIA DA FAXINA, mas em 2002, como durou quase um mês, se transformou num festival onde outras atividades paralelas, para alertar sobre o problema do lixo, foram realizadas no bairro. Porém, o que mais chama a atenção é a faxina ou limpeza feita nos rios por moradores, veranistas, turistas e até mesmo residentes de outros bairros. De acordo com os resultados obtidos até agora, pode-se acreditar que a divulgação está surtindo efeito. Na 1ª campanha foram retiradas 177 toneladas de lixo, na 2ª 143 toneladas e na 3ª 59 toneladas. O fato da quantidade de lixo retirada ter diminuído é considerado um resultado positivo, pois pode significar que menos lixo foi jogado no rio durante o ano, ou seja, a comunidade estaria se sensibilizando e os conceitos de educação ambiental estariam se tornando parte do cotidiano. Embora isto não possa ser comprovado com absoluta certeza, porque não se contabilizou exatamente quantas pessoas participaram da limpeza. O Projeto Araras pelo DIA DA FAXINA recebeu, em 2002, o diploma Your Community Our Earth em reconhecimento a todas as comunidades e organizações do mundo inteiro que participam do Programa Clean UP The World. Uma parceria entre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e a ONG, australiana, Clean Up The World para limpar o mundo.
Os coordenadores do projeto acreditam que ainda há muito o quê fazer nesta área e que a comunicação ainda não é feita de modo que atinja a toda comunidade. Porém, ao observar como este projeto é realizado, nota-se que já estão mais organizados na hora de pensar no processo de comunicação. Para reunir todos os cadastrados neste projeto (até o final de maio eram 36), as secretárias enviam primeiro um e-mail e depois confirmam por telefone se as pessoas comparecerão à reunião programada.
Na primeira reunião observada (30/03/03), apenas 8 pessoas compareceram. O objetivo era definir as metas de 2003, entre elas, o Festival da Limpeza. Durante este encontro algumas pessoas comentaram sobre a dificuldade para divulgação e foi nesta reunião que aceitaram o convite para uma palestra na UCP (Universidade Católica de Petrópolis) o que foi apontado como uma oportunidade de divulgar, não só o Araras Sem Lixo, mas também o Projeto Araras.
Pode-se constatar também que os participantes têm uma grande preocupação com a questão da Educação Ambiental. Embora o evento principal, o Festival da Limpeza, fosse o de mais destaque naquele dia, a questão da EA como uma mudança de comportamento foi comentada várias vezes, pois acreditam que é necessário um trabalho durante todo o ano, principalmente com as escolas, para que haja uma redução do lixo. Por isso, neste dia um assunto que deixou os participantes satisfeitos foi o de que a Comdep instalou as sete placas com frases de conscientização, pedidas há quatro anos. (Uma das frases era o acróstico “Ar Puro – Rios Limpos -A natureza agradece –Respeite-Araras – Sem Lixo!”) Alguns comentaram sobre a dificuldade da leitura, pois achavam que havia muita informação. Isto mostrou preocupação com a forma de transmitir a mensagem, ou seja, uma preocupação com o feedback, que em comunicação significa, “uma resposta a uma mensagem” (DIMBLEBY&BURTON, 1990,p.214) que neste caso era o entendimento dos conceitos de preservação ambiental. Mas, a questão das placas mostra que o PA ainda terá muito trabalho para sensibilizar a comunidade, pois até o final desta pesquisa, só uma placa sobreviveu aos vândalos, as outras foram arrancadas.
Outro assunto colocado em pauta na primeira reunião foi o patrocínio de uma história em quadrinhos elaborada pelo cartunista Miguel Paiva, há dois anos, que não cobrou pelo trabalho, pois ele também é cadastrado no projeto, mas há necessidade de patrocínio para ser publicado. Esta HQ, que conta a história de Ararinho e Vô Pedro, será distribuída nas escolas e no comércio local e tem por objetivo atingir toda a comunidade através de um texto leve e divertido, alertando para a necessidade de preservação de Araras e dos problemas gerados pelo lixo jogado no bairro pela geração atual e as conseqüências para a geração futura. Durante o encontro uma das coordenadoras lembrou que a EA faz parte dos PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais), mas que nas escolas de Araras isto não está ocorrendo. Por isso, as escolas locais são o lugar ideal para o PA desenvolver projetos de educação ambiental.
Uma das grandes preocupações do “grupo do lixo” , como alguns voluntários denominam o projeto, é com o incentivo à reciclagem. Em Araras apenas um coletor recolhe todo o lixo reciclável (cerca de 12 toneladas) porém, o trabalho de reciclagem está parado, porque não há um local em Araras apropriado para isto. Pelos assuntos discutidos, observou-se que as pessoas envolvidas têm uma noção de que natureza e ser humano não podem se separar. Talvez algumas nem tenham percebido isso, mas foi comum ouvir expressões como “não podemos fazer uma campanha, sem pensarmos nos problemas dos moradores em relação ao lixo, não é só manter a beleza do local, precisamos pensar nas pessoas, e nas conseqüências do lixo…etc”. O que lembra as recomendações da Conferência de Tbilisi, como “ajudar os alunos a descobrirem os sintomas e as causas reais dos problemas ambientais” (GUIMARÃES,1995,p.21) e “ressaltar a complexidade dos problemas ambientais e, em conseqüência,a necessidade de se desenvolver o sentido crítico e as atitudes necessárias para resolvê-los” (Idem).Nesta reunião foi sugerido fazer o festival em setembro, para coincidir com a clean-up the world, ong australiana que mantém contatos com o Projeto Araras e que promove o dia Mundial da Limpeza.
De acordo com as coordenadoras do Araras Sem Lixo, depois de três festivais, este ano, o rio não encheu por causa do lixo. Em 2003 quando ocorreram as chuvas de janeiro o rio de Araras não transbordou como acontecia anteriormente. Já o Rio Piabanha, no Centro de Petrópolis,encheu rapidamente. Em 2001 os efeitos positivos desta atividade também foram percebidos, conforme noticiado no Jornal do Brasil.
Na segunda reunião (06/05/03),com representantes das escolas, foram decididas as principais atividades e estratégias para o Festival da limpeza marcado para o período de 19 de setembro a 31 de outubro, sendo que o DIA DA FAXINA será em 20 de setembro, para coincidir com a campanha da ONG Clean-Up-The-World. Durante a reunião ficou claro que o objetivo das coordenadoras não é simplesmente limpar o rio, mas sim fazer com que o lixo não seja jogado no rio, ou seja, fazer com que a EA seja utilizada para “despertar o indivíduo a participar ativamente na solução de problemas ambientais do seu cotidiano” (PEDRINI, 2002,p.28). Esta discussão surgiu porque uma professora achou que setembro ficaria muito longe da época das chuvas e quando chovesse o rio estaria cheio de novo. Nota-se aí uma dificuldade de conscientizar a comunidade “de mudar os comportamentos individuais e sociais” (REIGOTA, 1994,p.30).
Para 2003, com o objetivo de fazer uma interação entre as escolas, ficou sob responsabilidade das professoras a apresentação de palestras dos alunos maiores para os menores, sendo que cada escola fará as apresentações nas outras escolas. Os próprios alunos farão a pesquisa, obviamente, com o tema lixo, enfocando o ambiente e o ser humano.
No segundo encontro foi decidido o quê se poderia chamar de ações de comunicação para o Festival da Limpeza. Se conseguirem patrocínio, utilizarão os seguintes meios: Faixas ou banners, para serem colocados em todo o bairro; spots, gravados por algum artista que tenha casa em Araras, para serem veiculados em carros de som pelo bairro;cartazes e folhetos com distribuição nos condomínios; a história em quadrinhos de Miguel Paiva. Algumas professoras ficaram preocupadas com as faixas e o carro de som, para que não ocorra poluição visual ou sonora, e a propaganda acabe trazendo transtornos. Por isso, concordaram em que assim que terminar o festival, o PA retirará todas as placas. Quanto ao som, esta seria a única maneira de atingir as localidades mais distantes. A divulgação na imprensa também foi citada, embora não como prioridade. Através dos meios escolhidos percebe-se que realmente querem atingir a comunidade, pois selecionaram meios específicos para atingir os moradores. No Festival da Limpeza algumas atividades que deram certo ano passado serão repetidas,como as palestras sobre ecologia, realizadas por um grupo de universitários e o Teatro da Fundação de Cultura (Mama to na Lona).
O Projeto Araras mantém um clipping atualizado, onde estão todos os recortes das notícias relacionadas ao Projeto Araras e ao bairro. De 50 matérias (entre notas de colunistas e reportagens) analisadas, 24 eram sobre o Araras Sem Lixo, sobre o programa Educação, e as outras sobre o distrito ecológico e problemas com antenas celulares. Normalmente estes contatos com a imprensa são feitos por telefone ou e-mail. Muitas vezes a iniciativa é da própria imprensa. Os textos destas matérias são dos jornalistas do veículo, não foram retirados de releases “texto informativo distribuído à imprensa por uma instituição privada, governamental, etc, para ser divulgado gratuitamente, entre as notícias publicadas pelo veículo” (RABAÇA&BARBOSA, Citado por LIMA,p.17), pois o Projeto Araras utiliza pouco este recurso, muito comum em assessorias de imprensa para “levar à redação notícia que possa servir de apoio” (FENAJ, 1994,p.25). Apenas na semana do Festival do Lixo, em 2002, foi enviada a programação, que um jornal local, publicou na íntegra .Através destas matérias constata-se que a imprensa local apóia e simpatiza com a causa da ONG.
Mesmo não tendo um processo de comunicação contínuo, o Araras Sem Lixo está conseguindo fazer com que as questões ambientais sejam discutidas. Já se tornou exemplo de desenvolvimento sustentável no artigo que está no Livro Desenvolvimento Sustentável em Petrópolis, da Viana&Mosley Editor. Ainda não conseguiu envolver todo o bairro, pois há muitos interesses diferentes na região e o problema ambiental, nem sempre é encarado como prioridade por alguns.Os condomínios, por exemplo, também participam, alguns já tem coletiva seletiva, composteira para o lixo verde e os proprietários estão atentos a desmatamentos. A dificuldade de acesso aos meios de comunicação por parte dos moradores dificulta as ações. A direção do PA está tentando fazer uma rádio comunitária, pois considera este veículo de fácil acesso aos moradores.
No final da pesquisa o método que o Projeto Araras estava utilizando para divulgar seus projetos, era participar dos eventos sobre meio ambiente que estavam acontecendo na cidade. Nesses eventos, sempre que tinha oportunidade, além de dar um cartão de visitas, a representante explicava sobre os trabalhos desenvolvidos pela ONG. Em um deles, fez uma interpelação em uma palestra, quando um professor deu a idéia de se fazer um dia da limpeza em Petrópolis, como se isso jamais tivesse acontecido em qualquer lugar do mundo. A representante aproveitou para explicar sobre o Festival da Limpeza e destacou que um dos problemas era, justamente, a divulgação.
CONCLUSÃO
O Processo de comunicação utilizado pelo Araras Sem Lixo, principalmente para a divulgação do Festival da Limpeza, se for feito como planejado, conseguirá alcançar os resultados pretendidos, pois a ONG está utilizando diversos meios, direcionados à comunidade que quer atingir. Deve-se levar em conta que o festival já está se tornando uma característica do local e que nos anos anteriores foi o projeto que deu a ONG esta imagem de credibilidade. Isto pode ser comprovado, na prática, pela quantidade de lixo recolhido, pelo número de pessoas da comunidade e de outros locais que se envolveram e pela repercussão obtida na mídia. Não há como garantir que em 2003 o sucesso será o mesmo, pois toda a estratégia de comunicação planejada para este ano, depende de patrocínio. Pelo que foi feito até agora, pode-se afirmar que o projeto já conseguiu envolver alguns grupos, por exemplo, as professoras, embora isto não signifique que toda a comunidade escolar participará, pois dependerá da forma como estas professoras farão a comunicação nas escolas. Para termos certeza de que o processo de comunicação utilizado pelo Araras Sem Lixo foi correto e que os meios de comunicação escolhidos influenciarão no resultado final, será necessário acompanhar os próximos passos e conferir o Festival da Limpeza, que serve como uma espécie de termômetro do PA, para saber se estão conseguindo passar, através dos meios de comunicação, alguma noção de EA. Ao conferir os resultados dos anos de 2001 e 2002, percebe-se que isto ocorreu de uma forma ainda tímida, mas significante, pois a comunidade já se preocupa com as questões ambientais. Mas o trabalho de educação ambiental não acontece de um dia para o outro, é uma tarefa que deve ser contínua e aqueles que se dispõem a fazê-la precisam ser persistentes.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BELTRÃO, Luiz; QUIRINIO, Newton de Oliveira. Subsídios para uma Teoria da Comunicação de Massa. São Paulo, Summus, 1986
BORDENAVE, Juan E. Diaz. O que é Comunicação. São Paulo, Brasiliense, 1984.
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DIMBLEBY, Richard & Burton, GRAEME. Mais do que Palavras – Uma Introdução à Teoria da Comunicação. São Paulo, Summus Editorial, 2ª edição, 1990.
FENAJ, Federação Nacional de Assessoria de Imprensa, Manual Nacional de Assessoria de Imprensa, Rio de Janeiro, edição da Comissão Nacional dos Jornalistas em Assessoria de Imprensa da FENAJ, 1994.
GUIMARÃES, Mauro. A Dimensão Ambiental na Educação, São Paulo, Papirus, 1995.
LIMA, Gerson Moreira, Releasemania – Uma Contribuição para o Estudo do Press -release no Brasil – São Paulo,Summus Editorial, 1985.
MARTINS, Eduardo. Manual de Redação e Estilo . São Paulo, Editora Moderna, 1997.
MCLUHAN, Marshall; FIORE, Quentin. Os Meios de Comunicação (como extensões do homem).Tradução de Décio Pignatari, São Paulo, Cultrix, 1964.
PEDRINI, Alexandre de Gusmão. Educação Ambiental, Reflexões e Práticas Contemporâneas. Petrópolis-RJ, Vozes, 1997.
REIGOTA, Marcos. O Que é Educação Ambiental. São Paulo, Brasiliense, 1994.
_____.Meio Ambiente e Representação Social. São Paulo, Cortez, 2002.
AGRADECIMENTOS
Aos professores Dr.Alexandre Pedrini e Ms.Maria Esther Araújo, pela orientação, e a todos os participantes da ONG Projeto Araras, em especial à Presidente Beatriz S.L de Miranda, às secretárias Geiziane Vantini e Cibele Izidoro e às coordenadoras do Araras Sem Lixo Maria Isabel Nahon e Cecília Alvim.
Autora:
Teresinha de Jesus Fidelles de Almeida
Rua Zélia Rettmayer, nº 82 – Centro – Petrópolis – RJ – CEP: 25680-060
Instituição: Universidade Candido Mendes – Projeto A Vez do Mestre
Anais do VII Encontro de Educação Ambiental do Estado do Rio de Janeiro
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 23-25 de setembro de 2004
p. 445 – 456
INTRODUÇÃO
Numa sociedade em que a comunicação de massa exerce um poder inquestionável e portanto é responsável pela transmissão e fixação de muitos conceitos, saber de que forma os meios de comunicação social influenciam na divulgação e execução de projetos de educação ambiental, realizados por uma Organização Não-Governamental, é um tema que deve ser estudado pois o conceito de EA ainda não foi compreendido pela maior parte da população. A EA apresenta
“uma nova dimensão a ser incorporada ao processo educacional, trazendo toda uma recente discussão sobre as questões ambientais,e as conseqüentes transformações de conhecimento, valores e atitudes diante de uma nova realidade a ser construída” (GUIMARÃES, 1995,p.9).
Para compreendermos Comunicação Social e Educação Ambiental é necessário termos uma definição do que são os meios de comunicação e meio ambiente. Os meios de comunicação podem ser analisados como extensões do homem e classificados como meios quentes e meios frios. “O quente é aquele que prolonga um único de nossos sentidos e em alta definição. Por exemplo, uma fotografia, o rádio… já o meio frio seria caracterizado pela baixa definição, como um desenho ou o telefone” (MCLUHAN, 1964,p.38).
O meio ambiente pode ser considerado o
“um lugar determinado e/ou percebido onde estão em relações dinâmicas e em constante interação os aspectos naturais e sociais.Essas relações acarretam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e políticos de transformação da natureza e da sociedade” (REIGOTA, 2001,p.21).
Um processo de comunicação realizado de forma eficaz contribui para o sucesso de qualquer empreendimento ou atividade. Por isso, analisar de que forma a comunicação poderá contribuir para que as ações em EA sejam efetivadas com sucesso, torna-se uma necessidade. Partindo do raciocínio de que uma ONG ou mesmo uma escola tem uma estrutura de empresa, pode-se pensar no processo de comunicação da mesma forma. Ou seja, a comunicação deve “proporcionar segurança, continuidade e criatividade através da compreensão mútua da coletividade, entre emissor e receptor, sejam esses quem forem e em que momento ocuparem cada uma dessas posições” (LIMA,1985,p.27).Portanto, o trabalho de divulgação, de assessoria de imprensa poderia ser executado com os mesmos critérios,ou seja, o Assessor de Imprensa seria “o responsável por múltiplas atividades e desempenha papel estratégico na política de comunicação dos assessorados” (FENAJ, 1998,p.12). Mas, deve-se destacar que não basta usar todas as técnicas e meios de comunicação disponíveis, é preciso “levar em conta sua ética, sua operacionalidade, o benefício para todas as pessoas em todos os setores profissionais” (LIMA, 1985,p.5).
METODOLOGIA
Para a realização desta monografia o primeiro passo foi uma pesquisa bibliográfica sobre Comunicação Social e Educação Ambiental. Após esta pesquisa foram escolhidos quais os autores que seriam utilizados como referência teórica. Em seguida, foi realizada uma pesquisa nos jornais locais e assim foi escolhida a instituição que seria o objeto de estudo de caso, a Organização Não Governamental Projeto Araras. Através de uma pesquisa de campo, onde foram coletados no local, os dados sobre a instituição escolhida, foi feito um estágio de observação, participativa, onde se pode acompanhar, entre os meses de fevereiro e junho de 2003, o processo de comunicação do projeto Araras Sem Lixo. Com o objetivo de conhecer o perfil dos integrantes da ong, foram entregues formulários com as seguintes perguntas:Qual seu objetivo ao participar de uma ONG?; O que é Meio Ambiente; O que é Educação Ambiental? O que é desenvolvimento sustentável? Quais os meios de comunicação utilizados para divulgar os projetos da ONG?;e De que forma a Comunicação Social pode auxiliar nos projetos desenvolvidos pela ONG? De dez formulários deixados no Projeto Araras, dois foram respondidos.
Durante o estágio teve-se a oportunidade de observar as reuniões do Araras Sem Lixo que definiram as metas do projeto. As reuniões foram mais úteis para se conhecer o perfil dos participantes do que os formulários.Também foram realizadas entrevistas informais, análise de documentos e o local de estágio foi fotografado.
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL “NO ARARAS SEM LIXO”
A Organização Não-Governamental Projeto Araras, fundada em janeiro de 2001, está localizada no Bairro de Araras, no Distrito de Cascatinha, em Petrópolis, região serrana do Estado do Rio de Janeiro.Bastante procurado por turistas, tem 8.000 habitantes em 15 quilômetros de extensão, 2500 residências, 13 condomínios, 14 restaurantes, 8 pousadas, 5 áreas de ocupação desordenada, 1, creche, 1 shopping, 5 escolas, 4 públicas e 1 particular, sendo esta a única com ensino médio.
A Ong tem por objetivo melhorar a qualidade de vida, preservar e recuperar o meio ambiente em Araras,através da participação e envolvimento da comunidade. Fazem parte do Conselho, representantes das sete localidades de Araras (Poço dos Peixes, Cruzeiro, Mombaça, Perobas, Vale de Santa Luzia, Vista Alegre e Malta) e também do bairro – Vale das Videiras. Até maio de 2003 contava com 596 cadastrados. Destes, 20 são voluntários efetivos, ou seja, participam com mais freqüência dos projetos, e 109 contribuem financeiramente. Até junho de 2003, estavam elaborados os seguintes programas: Meio Ambiente (com os projetos Araras Sem Lixo, Água e Corredor de Vida Silvestre); Educação (subdividido em Memória e Espaço Cultural);Infra-estrutura e Segurança. Estão em funcionamento o Araras Sem Lixo e o Espaço Cultural, que oferece cursos para comunidade local. Para o desenvolvimento destes projetos, antes da fundação oficial, os participantes da ong fizeram um levantamento para saber quais as principais necessidades do bairro.
O Projeto Araras Sem Lixo é o que obteve maior repercussão local e que possui maior divulgação em veículos de comunicação com alcance estadual e nacional. Este projeto foi também o primeiro da ONG, e começou antes mesmo da organização existir oficialmente. Problemas relacionados ao lixo são comuns em Araras. Além da poluição dos rios, casos de leptospirose ocorreram no bairro, e as queimadas nas matas, provocadas pela queima de forma inadequada do lixo verde, são freqüentes. A coleta de lixo antes não era regular, mas o Araras Sem Lixo conseguiu que fosse normalizada, em alguns logradouros. Em Petrópolis a coleta de lixo e a limpeza urbana e rural são de responsabilidade da COMDEP (Companhia Municipal de Desenvolvimento de Petrópolis), uma empresa de economia mista (pública/privada).
Os objetivos do Araras Sem Lixo, conforme informações obtidas no site www.projetoararas.org.br, são: Conscientizar a população de moradores, veranistas e visitantes através de educação nas escolas e campanhas. Tendo como meta a melhoria da qualidade de vida e preservação da beleza e saúde local; Parceria da comunidade com os órgãos competentes ;Implantação da coleta seletiva e galpão de reciclagem. Os participantes da ONG têm uma visão holística de meio ambiente, ou seja “de que o ser humano é natureza e não parte dela” (GUIMARÃES, 1993,p.30), embora sejam pessoas com formação educacional das mais diversas. Participam artesãos, advogados, médicos, comerciantes, professoras, entre outros. Nota-se também que os participantes sabem como deve ser o processo de comunicação, sabem com quem devem falar na imprensa local, utilizam a internet para divulgação, mas dois problemas foram detectados: a falta de verba para um projeto de comunicação próprio e a falta de voluntários para fazer este tipo de serviço.
A ONG tem duas funcionárias para todas as tarefas administrativas e nem sempre elas têm tempo de fazer uma divulgação. Elas elaboram os informativos trimestrais, que são enviados por e-mail para todos os cadastrados. O site – www.projetoararas.org.br é atualizado por uma das secretárias, mas foi desenvolvido por um voluntário que depois não completou o serviço. Observa-se que o veículo mais utilizado é a internet, tanto para a comunicação com o público interno quanto com o externo. Embora não seja elaborado por especialistas, pode-se reconhecer a função jornalística da comunicação de massa, nos informativos e no site, que é realizada “através da captação, interpretação e difusão de informações e opiniões sobre fatos, idéias e situações atuais, de interesse e importância para a segurança e orientação de cada indivíduo e da sociedade como tal.” (BELTRÃO, 1986,p.142).
Através do site é possível claramente perceber que a ONG concorda com os conceitos de desenvolvimento sustentável e de educação ambiental atuais, ao deixar claro que quer o envolvimento de todos na questão e procura “levantar os principais problemas da comunidade….os conhecimentos necessários e as possibilidades concretas para a solução deles” (REIGOTA, 1994,p.27). A Carta da Terra é um dos destaques da homepage, o que reforça a idéia de que a ONG tem compromisso com as discussões ambientais mais recentes. A comunicação direta através do uso do telefone, da mala direta e do “boca a boca” também faz parte da estratégia de divulgação, pois nem todos os cadastrados têm acesso à internet. Quando conseguem patrocínio, fazem também cartazes e folders. As camisetas com ilustrações do cartunista Miguel Paiva, além de ser uma forma de conseguir recursos financeiros, também servem de divulgação pois têm o logotipo do Araras Sem Lixo e os coordenadores sempre que vão a algum evento usam a camiseta como forma de propaganda.
O Festival da Limpeza, principal atividade do Araras Sem Lixo, em 2003 terá a quarta edição. No início era chamado de DIA DA FAXINA, mas em 2002, como durou quase um mês, se transformou num festival onde outras atividades paralelas, para alertar sobre o problema do lixo, foram realizadas no bairro. Porém, o que mais chama a atenção é a faxina ou limpeza feita nos rios por moradores, veranistas, turistas e até mesmo residentes de outros bairros. De acordo com os resultados obtidos até agora, pode-se acreditar que a divulgação está surtindo efeito. Na 1ª campanha foram retiradas 177 toneladas de lixo, na 2ª 143 toneladas e na 3ª 59 toneladas. O fato da quantidade de lixo retirada ter diminuído é considerado um resultado positivo, pois pode significar que menos lixo foi jogado no rio durante o ano, ou seja, a comunidade estaria se sensibilizando e os conceitos de educação ambiental estariam se tornando parte do cotidiano. Embora isto não possa ser comprovado com absoluta certeza, porque não se contabilizou exatamente quantas pessoas participaram da limpeza. O Projeto Araras pelo DIA DA FAXINA recebeu, em 2002, o diploma Your Community Our Earth em reconhecimento a todas as comunidades e organizações do mundo inteiro que participam do Programa Clean UP The World. Uma parceria entre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e a ONG, australiana, Clean Up The World para limpar o mundo.
Os coordenadores do projeto acreditam que ainda há muito o quê fazer nesta área e que a comunicação ainda não é feita de modo que atinja a toda comunidade. Porém, ao observar como este projeto é realizado, nota-se que já estão mais organizados na hora de pensar no processo de comunicação. Para reunir todos os cadastrados neste projeto (até o final de maio eram 36), as secretárias enviam primeiro um e-mail e depois confirmam por telefone se as pessoas comparecerão à reunião programada.
Na primeira reunião observada (30/03/03), apenas 8 pessoas compareceram. O objetivo era definir as metas de 2003, entre elas, o Festival da Limpeza. Durante este encontro algumas pessoas comentaram sobre a dificuldade para divulgação e foi nesta reunião que aceitaram o convite para uma palestra na UCP (Universidade Católica de Petrópolis) o que foi apontado como uma oportunidade de divulgar, não só o Araras Sem Lixo, mas também o Projeto Araras.
Pode-se constatar também que os participantes têm uma grande preocupação com a questão da Educação Ambiental. Embora o evento principal, o Festival da Limpeza, fosse o de mais destaque naquele dia, a questão da EA como uma mudança de comportamento foi comentada várias vezes, pois acreditam que é necessário um trabalho durante todo o ano, principalmente com as escolas, para que haja uma redução do lixo. Por isso, neste dia um assunto que deixou os participantes satisfeitos foi o de que a Comdep instalou as sete placas com frases de conscientização, pedidas há quatro anos. (Uma das frases era o acróstico “Ar Puro – Rios Limpos -A natureza agradece –Respeite-Araras – Sem Lixo!”) Alguns comentaram sobre a dificuldade da leitura, pois achavam que havia muita informação. Isto mostrou preocupação com a forma de transmitir a mensagem, ou seja, uma preocupação com o feedback, que em comunicação significa, “uma resposta a uma mensagem” (DIMBLEBY&BURTON, 1990,p.214) que neste caso era o entendimento dos conceitos de preservação ambiental. Mas, a questão das placas mostra que o PA ainda terá muito trabalho para sensibilizar a comunidade, pois até o final desta pesquisa, só uma placa sobreviveu aos vândalos, as outras foram arrancadas.
Outro assunto colocado em pauta na primeira reunião foi o patrocínio de uma história em quadrinhos elaborada pelo cartunista Miguel Paiva, há dois anos, que não cobrou pelo trabalho, pois ele também é cadastrado no projeto, mas há necessidade de patrocínio para ser publicado. Esta HQ, que conta a história de Ararinho e Vô Pedro, será distribuída nas escolas e no comércio local e tem por objetivo atingir toda a comunidade através de um texto leve e divertido, alertando para a necessidade de preservação de Araras e dos problemas gerados pelo lixo jogado no bairro pela geração atual e as conseqüências para a geração futura. Durante o encontro uma das coordenadoras lembrou que a EA faz parte dos PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais), mas que nas escolas de Araras isto não está ocorrendo. Por isso, as escolas locais são o lugar ideal para o PA desenvolver projetos de educação ambiental.
Uma das grandes preocupações do “grupo do lixo” , como alguns voluntários denominam o projeto, é com o incentivo à reciclagem. Em Araras apenas um coletor recolhe todo o lixo reciclável (cerca de 12 toneladas) porém, o trabalho de reciclagem está parado, porque não há um local em Araras apropriado para isto. Pelos assuntos discutidos, observou-se que as pessoas envolvidas têm uma noção de que natureza e ser humano não podem se separar. Talvez algumas nem tenham percebido isso, mas foi comum ouvir expressões como “não podemos fazer uma campanha, sem pensarmos nos problemas dos moradores em relação ao lixo, não é só manter a beleza do local, precisamos pensar nas pessoas, e nas conseqüências do lixo…etc”. O que lembra as recomendações da Conferência de Tbilisi, como “ajudar os alunos a descobrirem os sintomas e as causas reais dos problemas ambientais” (GUIMARÃES,1995,p.21) e “ressaltar a complexidade dos problemas ambientais e, em conseqüência,a necessidade de se desenvolver o sentido crítico e as atitudes necessárias para resolvê-los” (Idem).Nesta reunião foi sugerido fazer o festival em setembro, para coincidir com a clean-up the world, ong australiana que mantém contatos com o Projeto Araras e que promove o dia Mundial da Limpeza.
De acordo com as coordenadoras do Araras Sem Lixo, depois de três festivais, este ano, o rio não encheu por causa do lixo. Em 2003 quando ocorreram as chuvas de janeiro o rio de Araras não transbordou como acontecia anteriormente. Já o Rio Piabanha, no Centro de Petrópolis,encheu rapidamente. Em 2001 os efeitos positivos desta atividade também foram percebidos, conforme noticiado no Jornal do Brasil.
Na segunda reunião (06/05/03),com representantes das escolas, foram decididas as principais atividades e estratégias para o Festival da limpeza marcado para o período de 19 de setembro a 31 de outubro, sendo que o DIA DA FAXINA será em 20 de setembro, para coincidir com a campanha da ONG Clean-Up-The-World. Durante a reunião ficou claro que o objetivo das coordenadoras não é simplesmente limpar o rio, mas sim fazer com que o lixo não seja jogado no rio, ou seja, fazer com que a EA seja utilizada para “despertar o indivíduo a participar ativamente na solução de problemas ambientais do seu cotidiano” (PEDRINI, 2002,p.28). Esta discussão surgiu porque uma professora achou que setembro ficaria muito longe da época das chuvas e quando chovesse o rio estaria cheio de novo. Nota-se aí uma dificuldade de conscientizar a comunidade “de mudar os comportamentos individuais e sociais” (REIGOTA, 1994,p.30).
Para 2003, com o objetivo de fazer uma interação entre as escolas, ficou sob responsabilidade das professoras a apresentação de palestras dos alunos maiores para os menores, sendo que cada escola fará as apresentações nas outras escolas. Os próprios alunos farão a pesquisa, obviamente, com o tema lixo, enfocando o ambiente e o ser humano.
No segundo encontro foi decidido o quê se poderia chamar de ações de comunicação para o Festival da Limpeza. Se conseguirem patrocínio, utilizarão os seguintes meios: Faixas ou banners, para serem colocados em todo o bairro; spots, gravados por algum artista que tenha casa em Araras, para serem veiculados em carros de som pelo bairro;cartazes e folhetos com distribuição nos condomínios; a história em quadrinhos de Miguel Paiva. Algumas professoras ficaram preocupadas com as faixas e o carro de som, para que não ocorra poluição visual ou sonora, e a propaganda acabe trazendo transtornos. Por isso, concordaram em que assim que terminar o festival, o PA retirará todas as placas. Quanto ao som, esta seria a única maneira de atingir as localidades mais distantes. A divulgação na imprensa também foi citada, embora não como prioridade. Através dos meios escolhidos percebe-se que realmente querem atingir a comunidade, pois selecionaram meios específicos para atingir os moradores. No Festival da Limpeza algumas atividades que deram certo ano passado serão repetidas,como as palestras sobre ecologia, realizadas por um grupo de universitários e o Teatro da Fundação de Cultura (Mama to na Lona).
O Projeto Araras mantém um clipping atualizado, onde estão todos os recortes das notícias relacionadas ao Projeto Araras e ao bairro. De 50 matérias (entre notas de colunistas e reportagens) analisadas, 24 eram sobre o Araras Sem Lixo, sobre o programa Educação, e as outras sobre o distrito ecológico e problemas com antenas celulares. Normalmente estes contatos com a imprensa são feitos por telefone ou e-mail. Muitas vezes a iniciativa é da própria imprensa. Os textos destas matérias são dos jornalistas do veículo, não foram retirados de releases “texto informativo distribuído à imprensa por uma instituição privada, governamental, etc, para ser divulgado gratuitamente, entre as notícias publicadas pelo veículo” (RABAÇA&BARBOSA, Citado por LIMA,p.17), pois o Projeto Araras utiliza pouco este recurso, muito comum em assessorias de imprensa para “levar à redação notícia que possa servir de apoio” (FENAJ, 1994,p.25). Apenas na semana do Festival do Lixo, em 2002, foi enviada a programação, que um jornal local, publicou na íntegra .Através destas matérias constata-se que a imprensa local apóia e simpatiza com a causa da ONG.
Mesmo não tendo um processo de comunicação contínuo, o Araras Sem Lixo está conseguindo fazer com que as questões ambientais sejam discutidas. Já se tornou exemplo de desenvolvimento sustentável no artigo que está no Livro Desenvolvimento Sustentável em Petrópolis, da Viana&Mosley Editor. Ainda não conseguiu envolver todo o bairro, pois há muitos interesses diferentes na região e o problema ambiental, nem sempre é encarado como prioridade por alguns.Os condomínios, por exemplo, também participam, alguns já tem coletiva seletiva, composteira para o lixo verde e os proprietários estão atentos a desmatamentos. A dificuldade de acesso aos meios de comunicação por parte dos moradores dificulta as ações. A direção do PA está tentando fazer uma rádio comunitária, pois considera este veículo de fácil acesso aos moradores.
No final da pesquisa o método que o Projeto Araras estava utilizando para divulgar seus projetos, era participar dos eventos sobre meio ambiente que estavam acontecendo na cidade. Nesses eventos, sempre que tinha oportunidade, além de dar um cartão de visitas, a representante explicava sobre os trabalhos desenvolvidos pela ONG. Em um deles, fez uma interpelação em uma palestra, quando um professor deu a idéia de se fazer um dia da limpeza em Petrópolis, como se isso jamais tivesse acontecido em qualquer lugar do mundo. A representante aproveitou para explicar sobre o Festival da Limpeza e destacou que um dos problemas era, justamente, a divulgação.
CONCLUSÃO
O Processo de comunicação utilizado pelo Araras Sem Lixo, principalmente para a divulgação do Festival da Limpeza, se for feito como planejado, conseguirá alcançar os resultados pretendidos, pois a ONG está utilizando diversos meios, direcionados à comunidade que quer atingir. Deve-se levar em conta que o festival já está se tornando uma característica do local e que nos anos anteriores foi o projeto que deu a ONG esta imagem de credibilidade. Isto pode ser comprovado, na prática, pela quantidade de lixo recolhido, pelo número de pessoas da comunidade e de outros locais que se envolveram e pela repercussão obtida na mídia. Não há como garantir que em 2003 o sucesso será o mesmo, pois toda a estratégia de comunicação planejada para este ano, depende de patrocínio. Pelo que foi feito até agora, pode-se afirmar que o projeto já conseguiu envolver alguns grupos, por exemplo, as professoras, embora isto não signifique que toda a comunidade escolar participará, pois dependerá da forma como estas professoras farão a comunicação nas escolas. Para termos certeza de que o processo de comunicação utilizado pelo Araras Sem Lixo foi correto e que os meios de comunicação escolhidos influenciarão no resultado final, será necessário acompanhar os próximos passos e conferir o Festival da Limpeza, que serve como uma espécie de termômetro do PA, para saber se estão conseguindo passar, através dos meios de comunicação, alguma noção de EA. Ao conferir os resultados dos anos de 2001 e 2002, percebe-se que isto ocorreu de uma forma ainda tímida, mas significante, pois a comunidade já se preocupa com as questões ambientais. Mas o trabalho de educação ambiental não acontece de um dia para o outro, é uma tarefa que deve ser contínua e aqueles que se dispõem a fazê-la precisam ser persistentes.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BELTRÃO, Luiz; QUIRINIO, Newton de Oliveira. Subsídios para uma Teoria da Comunicação de Massa. São Paulo, Summus, 1986
BORDENAVE, Juan E. Diaz. O que é Comunicação. São Paulo, Brasiliense, 1984.
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LIMA, Gerson Moreira, Releasemania – Uma Contribuição para o Estudo do Press -release no Brasil – São Paulo,Summus Editorial, 1985.
MARTINS, Eduardo. Manual de Redação e Estilo . São Paulo, Editora Moderna, 1997.
MCLUHAN, Marshall; FIORE, Quentin. Os Meios de Comunicação (como extensões do homem).Tradução de Décio Pignatari, São Paulo, Cultrix, 1964.
PEDRINI, Alexandre de Gusmão. Educação Ambiental, Reflexões e Práticas Contemporâneas. Petrópolis-RJ, Vozes, 1997.
REIGOTA, Marcos. O Que é Educação Ambiental. São Paulo, Brasiliense, 1994.
_____.Meio Ambiente e Representação Social. São Paulo, Cortez, 2002.
AGRADECIMENTOS
Aos professores Dr.Alexandre Pedrini e Ms.Maria Esther Araújo, pela orientação, e a todos os participantes da ONG Projeto Araras, em especial à Presidente Beatriz S.L de Miranda, às secretárias Geiziane Vantini e Cibele Izidoro e às coordenadoras do Araras Sem Lixo Maria Isabel Nahon e Cecília Alvim.
Autora:
Teresinha de Jesus Fidelles de Almeida
Rua Zélia Rettmayer, nº 82 – Centro – Petrópolis – RJ – CEP: 25680-060
Instituição: Universidade Candido Mendes – Projeto A Vez do Mestre
Anais do VII Encontro de Educação Ambiental do Estado do Rio de Janeiro
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 23-25 de setembro de 2004
p. 445 – 456
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Existem diversas formas de olhar as características ambientais de uma região, todas elas relacionadas a maneiras próprias de observação e valoração da natureza que, por sua vez, estão referidas a visões de mundo particulares e relações sociais historicamente determinadas. É essa diversidade de perspectivas que pode ser observada entre grupos envolvidos numa atividade educativa, em que cada forma de olhar pressupõe formas específicas de ação muitas vezes discordantes, o que pode vir a afastar os atores envolvidos num mesmo projeto. Partindo desse ponto de vista, a proposta deste trabalho é fazer uma reflexão sobre a relação entre grupos distintos em projetos de Meio Ambiente à luz das diferenças de sistemas simbólicos analisando as dificuldades de se alcançarem resultados e propondo a participação de grupos locais na elaboração e execução de projetos/programas de Meio Ambiente. O que se buscará propor, a partir da observação das diferenças entre saberes e entre o Capital Simbólico das partes envolvidas, é que novos pressupostos metodológicos devem ser orientadores de uma nova ética na educação ambiental, trabalhando esta em dois sentidos: uma valorização de saberes locais e a busca de uma participação mais eficaz de grupos, a partir do conhecimento e troca de outros sistemas simbólicos.
Introdução
Este trabalho se refere à continuação de uma pesquisa antropológica desenvolvida com os jovens da Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande – Ong local que trabalha com jovens “nativos” da Ilha em atividades ambientais – que tinha como objetivo inicial fazer uma análise da relação entre o discurso e a prática desses jovens em relação a meio ambiente e ecologia(1). Como forma de dar continuidade a esta análise, esta pesquisa está hoje sendo desenvolvida no Programa de Pós-Graduação EICOS – Estudos de Comunidades e Ecologia Social do Instituto de Psicologia da UFRJ, e tem como meta fazer, além de uma pesquisa de campo, um levantamento teórico sobre participação e empoderamento comunitário em projetos de meio ambiente à luz dos saberes locais, do capital simbólico e do capital social destas comunidades. Espera-se, a partir do trabalho de campo, definir pressupostos metodológicos que orientem as práticas de programas e projetos de meio ambiente e educação ambiental para sua potencialização, e que, por sua vez, proporcione uma maior participação local de grupos e comunidades em projetos de desenvolvimento sustentável.
O presente trabalho procura fazer uma reflexão da prática de Educação Ambiental, o que pode também ser entendida como uma análise da ética nas práticas educativas à luz da relação entre os saberes dos educadores com os saberes dos educandos. Pretende-se refletir sobre a relação “simbólica” entre a educação ambiental – de maneira geral – com os saberes locais sobre meio ambiente de comunidades e/ou grupos alvos de programas/projetos nesta área e avaliar a importância de se levar em consideração os saberes destes grupos e de seu sistema simbólico.
A Educação Ambiental tem sido percebida como “uma solução” para todos os males, sobretudo para os problemas ambientais e de qualidade de vida local. Desde as conferências mundiais, em especial a Conferência de Tbilisi, que delineou os princípios norteadores da Educação Ambiental, uma postura diretiva tem norteado os métodos educativos, sejam formais ou informais. Uma postura que pretende “levar” a grupos e comunidades os “saberes necessários” a uma prática ambientalmente correta para a relação do homem com a natureza. Essa percepção considera que os “saberes científicos” sobre a natureza e o meio ambiente devem ser “orientadores” da prática da educação ambiental, e mesmo da ética da relação do homem com a natureza.
No entanto, um fato tem contribuído para o distanciamento das relações entre educadores no escopo dos projetos de Educação Ambiental, e para a diminuição da participação dos atores envolvidos no que se refere às práticas ambientais mais próativas de empoderamento político local, que se expressa através da diferença entre sistemas simbólicos – entendidos através do estudo dos códigos, linguagens e saberes locais – que, por sua vez, são orientadores da visão de mundo e das ações dos atores envolvidos nas práticas educativas.
Com base numa observação antropológica desenvolvida sobre as atividades dos jovens da Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande e de sua relação com o projeto de Educação Ambiental “Ilha Jovem”(2), a presente proposta de pesquisa objetiva avaliar o sistema simbólico deste grupo de jovens e como sua “cultura”, em conjunto com o habitus do grupo, “orienta” as ações e práticas relativas à sua relação com o ambiente natural.
Espera-se, com esta pesquisa, analisar a relação entre os saberes locais com a questão ambiental e delinear caminhos e pressupostos metodológicos para projetos futuros com grupos e comunidades locais que potencializem a sua participação e valorize os seus saberes sobre o ambiente natural.
Acredita-se que a Educação Ambiental não deve ser colocada como um instrumento de “enquadramento” da ação sobre o meio ambiente, nem mesmo deve ser vista apenas como um “democratizador” de informações ambientais. A Educação Ambiental pode mais e, partindo do resgate dos saberes locais, pode ir além da reificação estética da natureza e proporcionar verdadeiros espaços de trocas de saberes, em que grupos e comunidades passam a se colocar como atores ativos no espaço territorial que ocupam e dentro das relações sociais da qual fazem parte.
Referencial Teórico
Nem sempre os caminhos percorridos pela Educação Ambiental no Brasil levam em conta as relações dos saberes locais com a natureza, e as características da região onde vivem os grupos envolvidos. Uma proposta nesses moldes costuma privilegiar o saber científico e a visão alarmista dos movimentos ambientalistas em geral, o que acaba por não inserir em suas práticas os problemas e realidades ambientais locais, bem como o “perceber a natureza” dos atores envolvidos nestes programas.
Muito se fala, também, sobre a diversidade cultural brasileira, mas pouco se sabe, de fato, o que representa essa diversidade na “leitura” da natureza. Neste contexto, entender/analisar as formas de apreensão cultural da natureza, em grupos humanos distintos, é entender como estas definem suas ações e até mesmo como elas irão “receber” novas informações e conhecimentos sobre “ecologia e meio ambiente”. Assim, o estudo sobre o sistema simbólico de grupos humanos pode nos apontar para “o como” estes valoram e conhecem o ambiente local, o que acaba por determinar/apontar o sentido de sua ação, e mesmo de sua interação com outros grupos.
O estudo dos Sistemas Simbólicos seria o estudo da maneira como grupos e comunidades estruturam “simbolicamente” seus saberes sobre o ambiente local e como encadeiam, de forma lógica, os fatos, os entendimentos e suas experiências sobre a natureza, o que, por sua vez, aponta para como estes grupos se percebem/entendem e se relacionam com o mundo à sua volta. Em resumo, seria como os indivíduos – participantes de grupos – esquematizam seu entendimento de mundo, relacionando fatos numa cadeia lógica baseada nas suas vivências e experiências.
Um “percurso” pelo país, ou mesmo pelo Rio de Janeiro, pode ilustrar milhões de formas de organização social, costumes, hábitos, festas, formas de relacionamento com a política, com a economia, modos de valorar a vida e a natureza. As comunidades locais se desenvolvem com histórias próprias e criam laços simbólicos com o mundo que as cerca, seja esse mundo físico (natureza) ou simbólico (cultura). Esses laços definem suas formas de agir, e é com os seus saberes constituídos que elas se relacionam com o mundo. Nesse sentido, reconhecer as identidades locais, o ambiente natural, sua inserção no espaço e os sistemas simbólicos que estão em jogo é o que permite fazer uma análise das formas de relacionamento, de modo a propor projetos participativos que possam garantir a sustentabilidade dos ecossistemas e a qualidade de vida das populações sem ferir o seu senso ético, nem ignorar os seus saberes.
Essa reflexão não se restringe somente às comunidades num sentido estrito. É possível pensar também em diversidades culturais quando se trata de grupos, o que pode aprofundar a análise quando se considera que toda “comunidade” é composta por uma diversidade de “grupos”. Dessa forma, se multiplicam as diversidades culturais e se abre um mundo de observação da relação dos homens entre si e com a natureza.
Vale ressaltar ainda que a proposta é de ver uma comunidade além de seu espaço territorial delimitado, de sua administração e de suas características ambientais e culturais, é importante observar o espaço das relações sociais marcado por identidades, conflitos entre grupos, disputas simbólicas, habitus e costumes próprios de seus grupos. No caso da Ilha Grande, cada praia tem uma história, uma marca de identidade que carrega em si modos de vida, códigos e maneiras próprias de valorar a natureza e se relacionar com ela. Se a “questão ambiental” pode aparecer como a grande questão da Ilha, de outro lado, a forma de relação das comunidades locais com a natureza, seus valores e tradições vão desaparecendo num cenário de turismo e especulação imobiliária, no qual o paraíso é reificado tornando-se objeto de uma disputa – entre diferentes segmentos da população, órgãos públicos e entidades diversas da sociedade civil, para marcar “quem entende do paraíso?” (PRADO, 2002).
Como observado, o estudo dos saberes locais, seus sistemas simbólicos e das relações sociais, pode mostrar como grupos e comunidades se relacionam com os temas abordados pela educação ambiental, em escala local. GEERTZ, em seu livro O saber local (1997), ressalta a necessidade de se focar os estudos antropológicos em escala local, sem grandes generalizações de temas e teorias. Em sua abordagem, ele demonstra que os estudos sobre a linguagem podem demonstrar como está construído o senso comum e o quanto ele pode apresentar as culturas destas comunidades. A proposta de se estudar as culturas e o sistema simbólico de grupos distintos em uma comunidade é de tentar entender como estes constroem suas visões de mundo e estruturam sua ação a partir das relações locais.
Em BOURDIEU (1998), encontra-se também o desenvolvimento de temas que definem sua teoria da ação e que determinam as bases teórico/metodológicas nesta pesquisa de pós-graduação. Entre eles o conceito de habitus. Sobre este conceito, procura-se entender como se estrutura a ação de indivíduos e grupos para daí apreender a construção de seu sistema simbólico.
Segundo ORTIZ (1983), BOURDIEU constrói este conceito na mediação entre o “objetivismo” de DURKHEIM e o “subjetivismo” de WEBER. Para ele, BOURDIEU define o habitus como um “conformador e orientador das ações”. Em sua teoria, ele resolve o impasse entre “objetivismo x subjetivismo” na medida que se utiliza destas duas correntes para definir seu conceito.
Em DURKHEIM (1978) encontramos a “estrutura social” como um conformador das ações dos indivíduos. Neste contexto, a sociedade aparece como uma fonte de coerção que define regras e normas às quais os indivíduos devem se orientar. Neste sentido, temos a idéia de “estrutura estruturada predispostas a funcionarem como estruturas estruturantes” na medida em que estas sugerem ao indivíduo ou ao grupo as formas, os sistemas e os símbolos pelos quais estes conformaram suas ações. Daqui BOURDIEU utiliza a objetividade presente em DURKHEIM (1978), mas também constrói suas críticas. Segundo ele, a ação não é empreendida conforme a obediência às regras, elas sim, podem oferecer a estrutura onde esta ocorrerá, mas não a define.
Para isso, BOURDIEU (1998) constrói a idéia de subjetividade presente em WEBER, na qual teríamos a escolha pelo sujeito de valores, normas e princípios sociais que orientam sua ação, porém não de forma racionalizada como em WEBER. Ele tenta, em seu estudo, pôr em evidência as capacidades criadoras e inventivas do homem a partir do momento que acredita que o indivíduo tem a liberdade de fazer escolhas, mesmo acreditando que estas escolhas são condicionadas pelo seu capital simbólico e pela estrutura social da qual participa.
Por Capital Simbólico se entende, resumidamente, todos os “conhecimentos/saberes” que o individuo socialmente adquiriu em sua história de vida e que, por sua vez, “estruturam” o sistema simbólico do qual opera em suas relações sociais. Vale ressaltar que há uma grande diferença entre o capital simbólico dos grupos envolvidos em projetos de Meio Ambiente e Educação Ambiental. Esta diferença acaba por afastar os grupos que não dominam certos códigos e se sentem excluídos da possibilidade do diálogo e da participação.
O que BOURDIEU deseja mostrar é que existe, tanto no sujeito, como no grupo, um “sistema de disposições duráveis” que compreende toda a formação que o indivíduo teve em sua história de vida, podendo ser interpretada pelo capital simbólico que adquiriu e pelo conhecimento de regras e normas sociais pelas quais procura conformar sua ação.
Voltando ao habitus, este seria então a união de um conjunto de “esquemas generativos”, que se formariam a partir dos conhecimentos adquiridos pelo indivíduo e “um haver” na medida em que este se conforma a determinadas estruturas internalizadas pelos indivíduos. Devemos atentar para o fato de que o habitus não é um conceito que visa entender e enquadrar somente a ação de indivíduos, mas também de grupos. O estudo do habitus de um indivíduo ou grupo permite uma análise sobre as práticas e as representações destes, na medida em que estas são objetivamente regulamentadas e reguladas. O habitus, por ser objetivamente regulamentado e regulado, ocasiona no sujeito, ou no grupo, a reprodução das relações objetivas na medida em que há uma internalização da objetividade – que se entende pelo conhecimento às regras – que ocorre de forma subjetiva – direcionada por escolhas de valores.
BOURDIEU (1998) sistematiza com este conceito uma forma de olhar como sujeitos e grupos orientam suas ações e como estas são definidas socialmente. Daqui se parte para o entendimento do habitus dos grupos alvo de projetos de Educação Ambiental para entender como ocorre o distanciamento na relação com outros sistemas simbólicos e qual a possibilidade de envolvimento e participação de grupos humanos em projetos de Educação Ambiental com um enfoque que privilegie o âmbito local.
Essa abordagem teórico/metodológica pode demonstrar, a partir de pesquisas prévias, o sucesso ou o fracasso de projetos/programas de Educação Ambiental à luz da relação entre grupos distintos e de seus sistemas simbólicos. Daí pode se perceber a distância entre os conhecimentos e as linguagens dos grupos envolvidos e analisar como a interação entre estes grupos se dá para alcançar também, como/qual seria o caminho mais eficiente para tornar programas deste tipo mais eficazes.
A partir da análise teórica destes conceitos, o que se espera é poder apontar para algumas premissas metodológicas que visam potencializar os resultados da prática de projetos de Educação Ambiental, bem como proporcionar uma maior participação de grupos nestes programas, garantindo, assim, sua sustentabilidade.
A hipótese inicial para esta pesquisa é de que a valoração dos saberes locais, das linguagens e do sistema simbólico dos grupos alvo de projetos/programas de Educação Ambiental, pode ser um caminho orientador destes projetos e potencializador dos resultados desejados. É com estes saberes e linguagens que os grupos alvo dos projetos se relacionam com o ambiente natural e socialmente, e sua valoração seria uma forma de atrair estes grupos para uma participação maior no escopo de projetos de cunho ambiental.
Outro caminho a ser trilhado nesta pesquisa se refere diretamente a necessidade de ser promovido no corpo dos projetos de conservação e educação ambiental, o aumento do capital simbólico dos grupos alvo destas iniciativas para que estes possam também “utilizar-se” de códigos e linguagens que lhes permitam participar simbólica e democraticamente das decisões sobre as intervenções no ambiente natural.
Metodologia
A metodologia que orienta esta pesquisa se baseia na observação participante, nos moldes da antropologia clássica, e na pesquisa-ação, através da avaliação e observação de um projeto de Educação Ambiental, que tem como objetivo estimular a realização de pequenos projetos pelos jovens da Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande – incluindo a continuação da edição do jornal Voz Nativa, desenvolvido por estes jovens – e entender/visualizar quais os saberes locais, códigos e linguagens que são utilizados por eles e que definem seu sistema simbólico.
A partir daí, a proposta é perceber, através de aulas expositivas sobre Educação Ambiental, como estes jovens recebem/internalizam novos “saberes científicos” e como estes saberes influem na sua ação e no seu discurso.
A edição do jornal Voz Nativa permite que seja feita também análise do conteúdo e do discurso destes jovens para entender/conhecer qual o capital simbólico sobre questões ambientais deste grupo de jovens e como eles utilizam seus saberes em suas práticas cotidianas.
A observação participante será seguida de entrevistas abertas semi-estruturadas e procurará fazer um levantamento das relações sociais locais, dos saberes desse grupo de jovens em relação à natureza bem como de todos os assuntos referentes às “questões ambientais” que são de interesse destes jovens. Enfim, a pesquisa irá de encontro aos Saberes Locais e ao habitus do grupo, procurando perceber a relação entre suas representações, conhecimentos de códigos e linguagens “ambientais” e de sua participação nos assuntos referentes ao ambiente local.
Conclusão
Não existe Educação Ambiental que não pretenda modificar o habitus e a percepção da relação do homem com a natureza. Esta prática educativa se apresenta como uma forma de “regularizar” esta relação para garantir uma sustentabilidade com qualidade de vida. No entanto, mudar os habitus e a percepção de grupos não é uma atividade que possa ignorar suas visões de mundo e suas relação socais locais.
Neste caso, o que se pretende estudar nesta pesquisa é como ocorre a participação em projetos de Educação Ambiental, e como os grupos envolvidos se apropriam dos conhecimentos abordados nestes programas e os utilizam em seu cotidiano. IRVING (2002) atenta para o fato da dificuldade da participação quando lidamos com a ineficiência da educação de base. Aqui ressaltamos a distância entre o capital simbólico de grupos locais, tradicionalmente excluídos dos processos de participação, e do quanto estes “conhecem” os códigos e linguagens necessárias à sua participação ativa nas decisões políticas locais.
O “conhecimento”, como ressalta IRVING (op. cit.), faz parte de um processo social que aproxima os indivíduos da participação. Sua valorização ocorre quando os indivíduos se apropriam deste conhecimento a partir de sua realidade. Este procedimento não apenas proporciona um aumento do capital simbólico dos grupos, mas de seu capital social e da possibilidade deste interagir com equidade nas decisões políticas locais.
(1) RANAURO, Marcio L. “Educação Ambiental pra que?”: discurso e prática ambiental dos jovens da Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande. Rio de Janeiro: Uerj/monografia de conclusão do curso de Ciências Sociais, 2002.
(2) Projeto inicialmente desenvolvido pela Oficina de Ensino e Pesquisa em Ciências Sociais da UERJ, que tem como apoio o NAI-Núcleo de Antropologia e Imagem, a Videoteca do CTE, a SR3 (Depext e Decult) e o CEADS-Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável da UERJ, além das entidades locais: Brigada Mirim Ecológica, Colégio Estadual e Escola Municipal Brigadeiro Nóbrega, Associação de Moradores do Abraão e IEF- Instituto Estadual de Florestas. Hoje este projeto faz parte também de uma pesquisa de Pós –Graduação do Programa EICOSEstudos Interdisciplinares de Comunidades e Ecologia Social do Instituto de Psicologia da UFRJ.
Bibliografia Citada
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
DURKHEIM, Emile. Emile DURKHEIM: Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Ática, 1978.
GEERTZ, Clifford. O saber local. Petrópolis: Vozes. 1997.
__________A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.
IRVING, Marta de Azevedo e AZEVEDO, Julia. Participação – Questão central na sustentabilidade de projetos de desenvolvimento. In: Turismo: o desafio da sustentabilidade. São Paulo: Futura, 2002.
ORTIZ, R. (org.) BOURDIEU: Coleção Grandes Cientistas Sociais, nº 39. São Paulo: Ática, 1983.
PRADO, Rosane Manhães. “Quem entende do paraíso: Estudo sobre percepção e políticas ambientais num contexto de unidades de conservação“. Gramado: XXIII Reunião Brasileira de Antropologia, Fórum de Pesquisa: “Processos institucionais de administração de conflitos e produção de verdades no espaço público. Abordagens interdisciplinares em uma perspectiva comparada”, mimeo, 2002.
RANAURO, Marcio L. “Educação Ambiental pra que?”: discurso e prática ambiental dos jovens da Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande. Rio de Janeiro: Uerj/monografia de conclusão do curso de Ciências Sociais, 2002.
Autoras:
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 23-25 de setembro de 2004
p. 344 – 354
Introdução
Este trabalho se refere à continuação de uma pesquisa antropológica desenvolvida com os jovens da Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande – Ong local que trabalha com jovens “nativos” da Ilha em atividades ambientais – que tinha como objetivo inicial fazer uma análise da relação entre o discurso e a prática desses jovens em relação a meio ambiente e ecologia(1). Como forma de dar continuidade a esta análise, esta pesquisa está hoje sendo desenvolvida no Programa de Pós-Graduação EICOS – Estudos de Comunidades e Ecologia Social do Instituto de Psicologia da UFRJ, e tem como meta fazer, além de uma pesquisa de campo, um levantamento teórico sobre participação e empoderamento comunitário em projetos de meio ambiente à luz dos saberes locais, do capital simbólico e do capital social destas comunidades. Espera-se, a partir do trabalho de campo, definir pressupostos metodológicos que orientem as práticas de programas e projetos de meio ambiente e educação ambiental para sua potencialização, e que, por sua vez, proporcione uma maior participação local de grupos e comunidades em projetos de desenvolvimento sustentável.
O presente trabalho procura fazer uma reflexão da prática de Educação Ambiental, o que pode também ser entendida como uma análise da ética nas práticas educativas à luz da relação entre os saberes dos educadores com os saberes dos educandos. Pretende-se refletir sobre a relação “simbólica” entre a educação ambiental – de maneira geral – com os saberes locais sobre meio ambiente de comunidades e/ou grupos alvos de programas/projetos nesta área e avaliar a importância de se levar em consideração os saberes destes grupos e de seu sistema simbólico.
A Educação Ambiental tem sido percebida como “uma solução” para todos os males, sobretudo para os problemas ambientais e de qualidade de vida local. Desde as conferências mundiais, em especial a Conferência de Tbilisi, que delineou os princípios norteadores da Educação Ambiental, uma postura diretiva tem norteado os métodos educativos, sejam formais ou informais. Uma postura que pretende “levar” a grupos e comunidades os “saberes necessários” a uma prática ambientalmente correta para a relação do homem com a natureza. Essa percepção considera que os “saberes científicos” sobre a natureza e o meio ambiente devem ser “orientadores” da prática da educação ambiental, e mesmo da ética da relação do homem com a natureza.
No entanto, um fato tem contribuído para o distanciamento das relações entre educadores no escopo dos projetos de Educação Ambiental, e para a diminuição da participação dos atores envolvidos no que se refere às práticas ambientais mais próativas de empoderamento político local, que se expressa através da diferença entre sistemas simbólicos – entendidos através do estudo dos códigos, linguagens e saberes locais – que, por sua vez, são orientadores da visão de mundo e das ações dos atores envolvidos nas práticas educativas.
Com base numa observação antropológica desenvolvida sobre as atividades dos jovens da Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande e de sua relação com o projeto de Educação Ambiental “Ilha Jovem”(2), a presente proposta de pesquisa objetiva avaliar o sistema simbólico deste grupo de jovens e como sua “cultura”, em conjunto com o habitus do grupo, “orienta” as ações e práticas relativas à sua relação com o ambiente natural.
Espera-se, com esta pesquisa, analisar a relação entre os saberes locais com a questão ambiental e delinear caminhos e pressupostos metodológicos para projetos futuros com grupos e comunidades locais que potencializem a sua participação e valorize os seus saberes sobre o ambiente natural.
Acredita-se que a Educação Ambiental não deve ser colocada como um instrumento de “enquadramento” da ação sobre o meio ambiente, nem mesmo deve ser vista apenas como um “democratizador” de informações ambientais. A Educação Ambiental pode mais e, partindo do resgate dos saberes locais, pode ir além da reificação estética da natureza e proporcionar verdadeiros espaços de trocas de saberes, em que grupos e comunidades passam a se colocar como atores ativos no espaço territorial que ocupam e dentro das relações sociais da qual fazem parte.
Referencial Teórico
Nem sempre os caminhos percorridos pela Educação Ambiental no Brasil levam em conta as relações dos saberes locais com a natureza, e as características da região onde vivem os grupos envolvidos. Uma proposta nesses moldes costuma privilegiar o saber científico e a visão alarmista dos movimentos ambientalistas em geral, o que acaba por não inserir em suas práticas os problemas e realidades ambientais locais, bem como o “perceber a natureza” dos atores envolvidos nestes programas.
Muito se fala, também, sobre a diversidade cultural brasileira, mas pouco se sabe, de fato, o que representa essa diversidade na “leitura” da natureza. Neste contexto, entender/analisar as formas de apreensão cultural da natureza, em grupos humanos distintos, é entender como estas definem suas ações e até mesmo como elas irão “receber” novas informações e conhecimentos sobre “ecologia e meio ambiente”. Assim, o estudo sobre o sistema simbólico de grupos humanos pode nos apontar para “o como” estes valoram e conhecem o ambiente local, o que acaba por determinar/apontar o sentido de sua ação, e mesmo de sua interação com outros grupos.
O estudo dos Sistemas Simbólicos seria o estudo da maneira como grupos e comunidades estruturam “simbolicamente” seus saberes sobre o ambiente local e como encadeiam, de forma lógica, os fatos, os entendimentos e suas experiências sobre a natureza, o que, por sua vez, aponta para como estes grupos se percebem/entendem e se relacionam com o mundo à sua volta. Em resumo, seria como os indivíduos – participantes de grupos – esquematizam seu entendimento de mundo, relacionando fatos numa cadeia lógica baseada nas suas vivências e experiências.
Um “percurso” pelo país, ou mesmo pelo Rio de Janeiro, pode ilustrar milhões de formas de organização social, costumes, hábitos, festas, formas de relacionamento com a política, com a economia, modos de valorar a vida e a natureza. As comunidades locais se desenvolvem com histórias próprias e criam laços simbólicos com o mundo que as cerca, seja esse mundo físico (natureza) ou simbólico (cultura). Esses laços definem suas formas de agir, e é com os seus saberes constituídos que elas se relacionam com o mundo. Nesse sentido, reconhecer as identidades locais, o ambiente natural, sua inserção no espaço e os sistemas simbólicos que estão em jogo é o que permite fazer uma análise das formas de relacionamento, de modo a propor projetos participativos que possam garantir a sustentabilidade dos ecossistemas e a qualidade de vida das populações sem ferir o seu senso ético, nem ignorar os seus saberes.
Essa reflexão não se restringe somente às comunidades num sentido estrito. É possível pensar também em diversidades culturais quando se trata de grupos, o que pode aprofundar a análise quando se considera que toda “comunidade” é composta por uma diversidade de “grupos”. Dessa forma, se multiplicam as diversidades culturais e se abre um mundo de observação da relação dos homens entre si e com a natureza.
Vale ressaltar ainda que a proposta é de ver uma comunidade além de seu espaço territorial delimitado, de sua administração e de suas características ambientais e culturais, é importante observar o espaço das relações sociais marcado por identidades, conflitos entre grupos, disputas simbólicas, habitus e costumes próprios de seus grupos. No caso da Ilha Grande, cada praia tem uma história, uma marca de identidade que carrega em si modos de vida, códigos e maneiras próprias de valorar a natureza e se relacionar com ela. Se a “questão ambiental” pode aparecer como a grande questão da Ilha, de outro lado, a forma de relação das comunidades locais com a natureza, seus valores e tradições vão desaparecendo num cenário de turismo e especulação imobiliária, no qual o paraíso é reificado tornando-se objeto de uma disputa – entre diferentes segmentos da população, órgãos públicos e entidades diversas da sociedade civil, para marcar “quem entende do paraíso?” (PRADO, 2002).
Como observado, o estudo dos saberes locais, seus sistemas simbólicos e das relações sociais, pode mostrar como grupos e comunidades se relacionam com os temas abordados pela educação ambiental, em escala local. GEERTZ, em seu livro O saber local (1997), ressalta a necessidade de se focar os estudos antropológicos em escala local, sem grandes generalizações de temas e teorias. Em sua abordagem, ele demonstra que os estudos sobre a linguagem podem demonstrar como está construído o senso comum e o quanto ele pode apresentar as culturas destas comunidades. A proposta de se estudar as culturas e o sistema simbólico de grupos distintos em uma comunidade é de tentar entender como estes constroem suas visões de mundo e estruturam sua ação a partir das relações locais.
Em BOURDIEU (1998), encontra-se também o desenvolvimento de temas que definem sua teoria da ação e que determinam as bases teórico/metodológicas nesta pesquisa de pós-graduação. Entre eles o conceito de habitus. Sobre este conceito, procura-se entender como se estrutura a ação de indivíduos e grupos para daí apreender a construção de seu sistema simbólico.
Segundo ORTIZ (1983), BOURDIEU constrói este conceito na mediação entre o “objetivismo” de DURKHEIM e o “subjetivismo” de WEBER. Para ele, BOURDIEU define o habitus como um “conformador e orientador das ações”. Em sua teoria, ele resolve o impasse entre “objetivismo x subjetivismo” na medida que se utiliza destas duas correntes para definir seu conceito.
Em DURKHEIM (1978) encontramos a “estrutura social” como um conformador das ações dos indivíduos. Neste contexto, a sociedade aparece como uma fonte de coerção que define regras e normas às quais os indivíduos devem se orientar. Neste sentido, temos a idéia de “estrutura estruturada predispostas a funcionarem como estruturas estruturantes” na medida em que estas sugerem ao indivíduo ou ao grupo as formas, os sistemas e os símbolos pelos quais estes conformaram suas ações. Daqui BOURDIEU utiliza a objetividade presente em DURKHEIM (1978), mas também constrói suas críticas. Segundo ele, a ação não é empreendida conforme a obediência às regras, elas sim, podem oferecer a estrutura onde esta ocorrerá, mas não a define.
Para isso, BOURDIEU (1998) constrói a idéia de subjetividade presente em WEBER, na qual teríamos a escolha pelo sujeito de valores, normas e princípios sociais que orientam sua ação, porém não de forma racionalizada como em WEBER. Ele tenta, em seu estudo, pôr em evidência as capacidades criadoras e inventivas do homem a partir do momento que acredita que o indivíduo tem a liberdade de fazer escolhas, mesmo acreditando que estas escolhas são condicionadas pelo seu capital simbólico e pela estrutura social da qual participa.
Por Capital Simbólico se entende, resumidamente, todos os “conhecimentos/saberes” que o individuo socialmente adquiriu em sua história de vida e que, por sua vez, “estruturam” o sistema simbólico do qual opera em suas relações sociais. Vale ressaltar que há uma grande diferença entre o capital simbólico dos grupos envolvidos em projetos de Meio Ambiente e Educação Ambiental. Esta diferença acaba por afastar os grupos que não dominam certos códigos e se sentem excluídos da possibilidade do diálogo e da participação.
O que BOURDIEU deseja mostrar é que existe, tanto no sujeito, como no grupo, um “sistema de disposições duráveis” que compreende toda a formação que o indivíduo teve em sua história de vida, podendo ser interpretada pelo capital simbólico que adquiriu e pelo conhecimento de regras e normas sociais pelas quais procura conformar sua ação.
Voltando ao habitus, este seria então a união de um conjunto de “esquemas generativos”, que se formariam a partir dos conhecimentos adquiridos pelo indivíduo e “um haver” na medida em que este se conforma a determinadas estruturas internalizadas pelos indivíduos. Devemos atentar para o fato de que o habitus não é um conceito que visa entender e enquadrar somente a ação de indivíduos, mas também de grupos. O estudo do habitus de um indivíduo ou grupo permite uma análise sobre as práticas e as representações destes, na medida em que estas são objetivamente regulamentadas e reguladas. O habitus, por ser objetivamente regulamentado e regulado, ocasiona no sujeito, ou no grupo, a reprodução das relações objetivas na medida em que há uma internalização da objetividade – que se entende pelo conhecimento às regras – que ocorre de forma subjetiva – direcionada por escolhas de valores.
BOURDIEU (1998) sistematiza com este conceito uma forma de olhar como sujeitos e grupos orientam suas ações e como estas são definidas socialmente. Daqui se parte para o entendimento do habitus dos grupos alvo de projetos de Educação Ambiental para entender como ocorre o distanciamento na relação com outros sistemas simbólicos e qual a possibilidade de envolvimento e participação de grupos humanos em projetos de Educação Ambiental com um enfoque que privilegie o âmbito local.
Essa abordagem teórico/metodológica pode demonstrar, a partir de pesquisas prévias, o sucesso ou o fracasso de projetos/programas de Educação Ambiental à luz da relação entre grupos distintos e de seus sistemas simbólicos. Daí pode se perceber a distância entre os conhecimentos e as linguagens dos grupos envolvidos e analisar como a interação entre estes grupos se dá para alcançar também, como/qual seria o caminho mais eficiente para tornar programas deste tipo mais eficazes.
A partir da análise teórica destes conceitos, o que se espera é poder apontar para algumas premissas metodológicas que visam potencializar os resultados da prática de projetos de Educação Ambiental, bem como proporcionar uma maior participação de grupos nestes programas, garantindo, assim, sua sustentabilidade.
A hipótese inicial para esta pesquisa é de que a valoração dos saberes locais, das linguagens e do sistema simbólico dos grupos alvo de projetos/programas de Educação Ambiental, pode ser um caminho orientador destes projetos e potencializador dos resultados desejados. É com estes saberes e linguagens que os grupos alvo dos projetos se relacionam com o ambiente natural e socialmente, e sua valoração seria uma forma de atrair estes grupos para uma participação maior no escopo de projetos de cunho ambiental.
Outro caminho a ser trilhado nesta pesquisa se refere diretamente a necessidade de ser promovido no corpo dos projetos de conservação e educação ambiental, o aumento do capital simbólico dos grupos alvo destas iniciativas para que estes possam também “utilizar-se” de códigos e linguagens que lhes permitam participar simbólica e democraticamente das decisões sobre as intervenções no ambiente natural.
Metodologia
A metodologia que orienta esta pesquisa se baseia na observação participante, nos moldes da antropologia clássica, e na pesquisa-ação, através da avaliação e observação de um projeto de Educação Ambiental, que tem como objetivo estimular a realização de pequenos projetos pelos jovens da Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande – incluindo a continuação da edição do jornal Voz Nativa, desenvolvido por estes jovens – e entender/visualizar quais os saberes locais, códigos e linguagens que são utilizados por eles e que definem seu sistema simbólico.
A partir daí, a proposta é perceber, através de aulas expositivas sobre Educação Ambiental, como estes jovens recebem/internalizam novos “saberes científicos” e como estes saberes influem na sua ação e no seu discurso.
A edição do jornal Voz Nativa permite que seja feita também análise do conteúdo e do discurso destes jovens para entender/conhecer qual o capital simbólico sobre questões ambientais deste grupo de jovens e como eles utilizam seus saberes em suas práticas cotidianas.
A observação participante será seguida de entrevistas abertas semi-estruturadas e procurará fazer um levantamento das relações sociais locais, dos saberes desse grupo de jovens em relação à natureza bem como de todos os assuntos referentes às “questões ambientais” que são de interesse destes jovens. Enfim, a pesquisa irá de encontro aos Saberes Locais e ao habitus do grupo, procurando perceber a relação entre suas representações, conhecimentos de códigos e linguagens “ambientais” e de sua participação nos assuntos referentes ao ambiente local.
Conclusão
Não existe Educação Ambiental que não pretenda modificar o habitus e a percepção da relação do homem com a natureza. Esta prática educativa se apresenta como uma forma de “regularizar” esta relação para garantir uma sustentabilidade com qualidade de vida. No entanto, mudar os habitus e a percepção de grupos não é uma atividade que possa ignorar suas visões de mundo e suas relação socais locais.
Neste caso, o que se pretende estudar nesta pesquisa é como ocorre a participação em projetos de Educação Ambiental, e como os grupos envolvidos se apropriam dos conhecimentos abordados nestes programas e os utilizam em seu cotidiano. IRVING (2002) atenta para o fato da dificuldade da participação quando lidamos com a ineficiência da educação de base. Aqui ressaltamos a distância entre o capital simbólico de grupos locais, tradicionalmente excluídos dos processos de participação, e do quanto estes “conhecem” os códigos e linguagens necessárias à sua participação ativa nas decisões políticas locais.
O “conhecimento”, como ressalta IRVING (op. cit.), faz parte de um processo social que aproxima os indivíduos da participação. Sua valorização ocorre quando os indivíduos se apropriam deste conhecimento a partir de sua realidade. Este procedimento não apenas proporciona um aumento do capital simbólico dos grupos, mas de seu capital social e da possibilidade deste interagir com equidade nas decisões políticas locais.
(1) RANAURO, Marcio L. “Educação Ambiental pra que?”: discurso e prática ambiental dos jovens da Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande. Rio de Janeiro: Uerj/monografia de conclusão do curso de Ciências Sociais, 2002.
(2) Projeto inicialmente desenvolvido pela Oficina de Ensino e Pesquisa em Ciências Sociais da UERJ, que tem como apoio o NAI-Núcleo de Antropologia e Imagem, a Videoteca do CTE, a SR3 (Depext e Decult) e o CEADS-Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável da UERJ, além das entidades locais: Brigada Mirim Ecológica, Colégio Estadual e Escola Municipal Brigadeiro Nóbrega, Associação de Moradores do Abraão e IEF- Instituto Estadual de Florestas. Hoje este projeto faz parte também de uma pesquisa de Pós –Graduação do Programa EICOSEstudos Interdisciplinares de Comunidades e Ecologia Social do Instituto de Psicologia da UFRJ.
Bibliografia Citada
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
DURKHEIM, Emile. Emile DURKHEIM: Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Ática, 1978.
GEERTZ, Clifford. O saber local. Petrópolis: Vozes. 1997.
__________A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.
IRVING, Marta de Azevedo e AZEVEDO, Julia. Participação – Questão central na sustentabilidade de projetos de desenvolvimento. In: Turismo: o desafio da sustentabilidade. São Paulo: Futura, 2002.
ORTIZ, R. (org.) BOURDIEU: Coleção Grandes Cientistas Sociais, nº 39. São Paulo: Ática, 1983.
PRADO, Rosane Manhães. “Quem entende do paraíso: Estudo sobre percepção e políticas ambientais num contexto de unidades de conservação“. Gramado: XXIII Reunião Brasileira de Antropologia, Fórum de Pesquisa: “Processos institucionais de administração de conflitos e produção de verdades no espaço público. Abordagens interdisciplinares em uma perspectiva comparada”, mimeo, 2002.
RANAURO, Marcio L. “Educação Ambiental pra que?”: discurso e prática ambiental dos jovens da Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande. Rio de Janeiro: Uerj/monografia de conclusão do curso de Ciências Sociais, 2002.
Autoras:
- Marcio Lima Ranauro
Estr. do Mendanha, 7558 – Campo Grande/RJ – CEP:23097-004
- Marta de Azevedo Irving
- Ruth Machado Barbosa
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
EICOS – Estudos Interdisciplinares de Comunidades e Ecologia Social
Instituto de Psicologia da UFRJ
Av. Pasteur 250 fundos – Praia Vermelha/RJ – CEP: 22290-240
Tel.: (21) 2295-3208 ramais 139 e 125 Telefax: (21)2295-3481
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 23-25 de setembro de 2004
p. 344 – 354
AMIGOS
É sempre bom ter amigos e encontrá-los é melhor ainda. Agora há pouco estava passando pela "Barão", rua principal do centro de Santa Vitória do Palmar, vindo de um itinerário de instituições públicas atrás de informações sobre a Vila Jacinto (mapas, localizações do espaço físico onde vou agir através do meu projeto - Separação do Lixo Domiciliar) e não é que encontro a Guga, tesoureira da ASCAMTER, Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis, da época em que fiz a minha primeira pós-graduação, em 2006 quando convivi com uma turma de uns 19 associados e fiz bons amigos, nos divertíamos em meio a tanta triagem e histórias de vida. Guga e Juba continuam lá, firme no batente, e nesse bate papo, sentadas na Padaria Amanhecer, na companhia de sua filinha Eduarda tive notícias de D. Candinha ( avó de Guga), marcamos um encontro ambiental como nos velhos tempos, no mesmo bate canal, no mesmo bate horário. Até lá!!!
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
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